Estágio probatório
Ações de Lula, em dois meses, falam mais do que mil palavras
Publicado
emApesar de estar em sua terceira encarnação como presidente da República, Luiz Inácio e seu governo ainda são considerados no estágio probatório. São apenas dois meses recém-completados, o que os mantêm no prazo de carência. Como ocorre com todos os mandatários, é necessário aguardar os 100 dias, período mínimo para fazer uma avaliação da condução do país. Difícil para nós, imediatistas e pedintes por natureza. Mesmo que seja cedo para julgar a condução do país, não há dúvida de que os pontos fortes e fracos são fáceis de vislumbrar. Entretanto, as ações têm falado mais do que mil palavras. E, diante do legado de terra arrasada e queimada deixada pelo antecessor, Lula da Silva vem demonstrando que reaprendeu a rezar nas cartilhas encorpadas dos grandes estadistas.
Contra a vontade das viúvas e de cambonos de Pai Jair de Curicica, Lula faz um governo para todos os brasileiros. É do povo sem ser popularesco, pensa no povo sem a necessidade de ser populista e, principalmente, se mantém popular sem precisar comer frango com farofa nos bares de periferia. Tudo a favor dos botecos e dos galináceos, mas tudo contra o oportunismo. Além disso, a liturgia do cargo nem sempre permite esse tipo de convescote. Sem nenhum complexo, afirmo que, por razões óbvias, Luiz Inácio teve meu voto no primeiro e no segundo turnos da última eleição presidencial. Também por motivos notórios, teve no segundo turno de 1989, em 2002 e em 2006, nas disputas contra Fernando Collor, José Serra e Geraldo Alckmin. Posso ter eventualmente me desapontado, mas jamais me arrependi pela escolha.
E o arrependimento não veio por uma argumentação das mais simplórias: não havia adversário capaz de aglutinar o eleitorado como ele. Em 2018, o candidato de Lula era um poste. Do outro lado estava um arremedo de político que, a exemplo do postulante de 1989, virou presidente por conta de um fato extemporâneo: o emburrecimento temporário de boa parte do eleitorado. Ocorreu com Collor, em 89, e com Pai Jair em 2018. O primeiro teve a seu favor uma tal caçada a marajás que nunca abateu nem um barnabé. O segundo cresceu eleitoralmente após uma facada surgida do nada, mas que acabou gerando comoção nacional e elegendo um fantasma para o cargo de maior visibilidade do país.
Como um preto velho em gira de criança, Pai Jair governou como eu e cerca de 99,9% dos brasileiros pilotam aviões. Ou seja, nada fez por que nada sabia fazer. Seu governo não teve começo nem meio. Graças a Deus e a 60,3 milhões de eleitores, teve o fim que merecia: deixou o Palácio do Planalto pela porta dos fundos, deixando a da frente aberta para que os terroristas do cercadinho completassem a lambança que ele iniciou. Sob seu comando, os evangélicos, a (des)inteligência das Forças Armadas e auxiliares, notadamente os PMs, e os representantes do agronegócio se imaginaram os donos da nação. E realmente foram por intermináveis quatro anos.
Os do agro agiam por interesses absolutamente pessoais e nada republicanos, os militares obedeciam a comandos superiores e os evangélicos atendiam a pastores enlouquecidos por dinheiro. E, em nome de Jesus, todos querendo acabar com o bem maior do brasileiro: a liberdade. Lula voltou. Com ele, a aposta na unidade nacional. Luiz Inácio não usa dialetos na interação com o povo. Como sua língua não é de trapo, normalmente fala o que a maioria quer ouvir. Se errou feio, pagou caro e se reelegeu bonito para provar ao povo que fará diferente do que fez e, principalmente, do que fizeram recentemente.
Sobre a valoração de um e de outro, a conclusão é singular: Luiz Inácio Lula da Silva, quem te conhece, te compra sem susto. Jair Messias Bolsonaro, quem te conhece, morreu de susto. Por isso, não te compra nunca mais. Quanto ao enredo, enquanto um virou comédia pastelão com óleo saturado, o outro está bem próximo de se transformar no melhor bastidor e na melhor bilheteria da franquia “Duro de Matar”. Se liguem na dica. É Duro de Matar 13 contra o Dólar 22 Furado. Aos interessados, vai lá um spoiler: o 22 não aguentou o trampo, perdeu as joias das arábias, fugiu para o Jurassic World e nem viu a coroação do Poderoso Chefão como O Senhor dos Anéis. É Um sonho de liberdade. Joinha, joinha. E eram pacotes de joias
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978