A frase que encerrou a alusão sexual grotesca do presidente da República, em pronunciamento público, resume também o sentimento do mundo diante das falsidades contadas pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, em seu discurso na COP-26: quando se trata do governo brasileiro, você só acredita se quiser.
A começar pela distorção da realidade socioambiental brasileira: “Reconhecemos também que onde existe muita floresta, também existe muita fome”, disse o ministro do governo, que acumula recordes em desmatamento e fome.
Como demonstram estudos, reportagens, depoimentos de indígenas e de outras comunidades tradicionais, é onde existe desmatamento, e não floresta, que existe muita, muita fome. Para ficar em um exemplo, retirado da checagem do discurso de Leite feita pela Agência Lupa em parceria com o Observatório do Clima: cinco dos municípios mais desmatados da Amazônia (Lábrea, Feijó, Jacareacanga, Anapu e Pacajá) estão também na lista dos municípios com menor Índice de Progresso Social na Amazônia.
E não são apenas os moradores das aldeias que veem a desnutrição infantil aumentar, como os Yanomami, oferecidos de bandeja pelo governo ao garimpo e ao crime organizado. Também passam fome os que moram à beira dos rios contaminados por mercúrio no Tapajós e os que enfrentam a seca duradoura e atroz no Centro-Sul do país, agravada pelo desmatamento da Amazônia. Nas cidades inchadas e pauperizadas, os mais pobres enfrentam a alta no preço dos alimentos, com renda e direitos já corroídos pela gestão desastrosa da pandemia e da economia, a corrupção na política e o desmonte das políticas sociais.
Não admira que o governo tenha ido a Glasgow com o único objetivo de chantagear o mundo, ostentando falsas metas de redução de emissões de carbono (não custa lembrar, 44% das emissões brasileiras vêm do desmatamento), e exigindo dinheiro pelo que não pretende entregar. Os “cowboys do carbono”, chefiados pelo ministro agroboy do meio-ambiente, que sucedeu àquele investigado por contrabando de madeira, querem vender ar quente em troca de fundos internacionais, lucrando em cima das terras de quilombolas, indígenas, ribeirinhos, abandonadas à miséria e invadidas por seus aliados.
É essa a proposta do governo brasileiro de “política climática”, além da reivindicação de recursos financeiros sem contrapartida – razão pela qual congelaram 3 bilhões de reais no Fundo Amazônia, que condicionava às doações à redução do desmatamento.
Nada muito diferente do que propõe contra a fome, ao desmontar o Programa Bolsa Família, reconhecido por sua eficácia e excelência internacionalmente, e transformá-lo em bolsa eleitoral, com duração de 1 ano (!), explorando a miséria que o próprio governo semeou.
Somos todos reféns do governo Bolsonaro. São os nossos direitos que estão sendo negociados nesse grande mercado paralelo em que se transformou o Brasil.