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Ordem é silenciar

Acusado de conluio, Serraglio mergulha na lama da carne

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Vera Rosa, Isabela Bonfim, Julia Lindner, Daiene Cardoso e Eric Decat

O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, foi orientado a se expor o mínimo possível desde que a Operação Carne Fraca veio à tona. A ordem partiu do Palácio do Planalto. Em conversas reservadas, auxiliares do presidente Michel Temer dizem que Serraglio – há apenas 15 dias no cargo – deve “submergir” para evitar mais desgaste e não se indispor com a Polícia Federal.

A crise envolvendo o ministro, porém, é reforçada até mesmo por integrantes do seu partido, o PMDB. A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) disse nesta terça-feira, 21, que, quando era titular da Agricultura, ainda no governo Dilma Rousseff, Serraglio – à época deputado federal – e seu colega Sérgio Souza (PMDB-PR) a pressionaram para manter Daniel Gonçalves Filho no posto. Ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016, Daniel é considerado pela Polícia Federal como o chefe da “quadrilha” desbaratada pela Operação Carne Fraca.

Interceptações telefônicas capturaram conversa de Serraglio com Daniel, um dos alvos da investigação. No diálogo, o então deputado se referia a Daniel como “grande chefe”.

“Esse cidadão que foi nomeado tinha processos administrativos no ministério e nunca tive notícias de uma pressão tão forte para não tirar esse bandido de lá”, afirmou Kátia. “Dois deputados do meu partido insistiram que a lei não fosse cumprida a ponto de eu ter de ligar para a presidente Dilma, comunicar minha decisão de demitir e avisar que, com as consequências políticas, eu iria arcar. E ela disse: ‘Demita já’”, relatou a senadora, no plenário. A demissão, porém, não ocorreu.

Serraglio rebateu Kátia. Em nota divulgada à noite, o ministro da Justiça disse que a indicação de Daniel foi feita pelo então deputado Moacir Micheletto – morto em acidente de carro, em 2012 – e “chancelada” pela bancada do PMDB no Paraná.

Para ele, a ex-ministra admitiu, no discurso, que só manteria o superintendente regional após o apoio dos senadores do PMDB. “Sobre a resistência em nomear (ratificá-lo no cargo), deu-se por haver divergências políticas entre ela (Kátia) e a maioria da bancada, que era a favor do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff”, escreveu o ministro.

Saída – Apesar das explicações, deputados e senadores continuaram pedindo a cabeça de Serraglio. O governo avalia que houve “espetacularização” da operação da PF, com prejuízos à economia, mas recomendou ao ministro que não se manifeste sobre o assunto nem compre brigas. Se necessário, ele deve responder “pontualmente” às acusações. Diante dessa ordem, a agenda de Serraglio tem sido de compromissos no gabinete.

A Comissão de Ética da Presidência recebeu nesta terça uma representação assinada pelos deputados Afonso Florence (PT-BA) e Robinson Almeida (PT-BA) contra Serraglio. Os parlamentares entraram, ainda, com pedido de investigação na Procuradoria- Geral da República.

Além da apuração do esquema revelado pela Carne Fraca, os petistas querem a demissão do ministro. “Ninguém chama os outros de chefe gratuitamente”, disse Almeida. O conselheiro Marcelo Figueiredo será o relator do caso na Comissão de Ética da Presidência. O colegiado tem reunião marcada para segunda-feira.

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