Lá pelos idos dos anos 1990, tive a oportunidade de entrevistar o Adalberto, ex-goleiro do Botafogo e do Santos. O cara, para quem não sabe, estava naquela final épica do campeonato carioca de 1957, quando o Fluminense, que tinha o Telê Santana como um dos seus principais jogadores, tomou de 6 a 2. A torcida alvinegra aproveitou a ocasião para rimar o placar: Seis a dois no Pó de Arroz!
E lá estava eu diante daquele cara enorme, que havia jogado ao lado de tantas lendas, de Garrincha a Pelé, passando pelos imortais Nilton Santos e Didi. Adalberto, sempre polido, trabalhava no Maracanã nessa época, onde me levou para um passeio pelo lendário estádio.
Eu, que já havia assistido a vários jogos ali, nunca ficara tão perto do gramado, a ponto de, sorrateiramente, esticar meu pé esquerdo e tocá-lo, a despeito do meu anfitrião ter me advertido diversas vezes para que eu não fizesse isso. Não sei se ele percebeu minha travessura, mas não me repreendeu.
Falamos sobre futebol, é verdade, mas o que mais gostei de escutar do antigo craque foram os causos do João Saldanha. O folclórico jornalista, durante uma época, ficou muito próximo ao Adalberto, quando este já havia pendurado as chuteiras. E, por isso, sempre o levava para as suas palestras mundo afora.
O João, que adorava contar histórias sobre o Garrincha, sempre buscava no Adalberto a confirmação dos ocorridos. O ex-goleiro, tímido que era, apenas acenava positivamente com a cabeça, para delírio da plateia, que aplaudia de pé o contador de causos. No entanto, quando os dois estavam sozinhos, o Adalberto, de maneira educada, obviamente, questionava o amigo.
— Mas, João, nessa época eu nem estava mais no Botafogo!
— Adalberto, Adalberto, vou te contar uma coisa que aprendi há muito tempo.
— O quê?
— Sabe o que é mais importante do que os fatos?
— Não.
— A história, meu amigo! A história!