Ele já havia nascido Divino, pois, nesse caso, era sobrenome herdado do pai, um certo Domingos. Por isso mesmo, cresceu com a responsabilidade de ser craque, algo praticamente fadado ao fracasso, haja vista tantos outros casos antes e depois. Talvez nem pensasse nisso, mesmo porque, parece, o pai o havia orientado desde cedo: “Mantenha os pés firmes no chão!”
Não se sabe ao certo se essa frase foi mesmo dita, talvez seja apenas coisa de algum torcedor fanático querendo dar um ar de magia à história do Ademir. Não aquele homônimo que jogou no Vasco. O Ademir desta história é outro, ou melhor, provavelmente o único que vem à mente dos apaixonados torcedores do Palmeiras, entre os quais se encontra a minha esposa, que nem mesmo o viu jogar. Mas ela, esperta como é, já correu praticamente todos os vídeos na internet à procura desse craque de bola: Ademir da Guia, o Divino!
A elegância e o toque fino de bola, foram do pai que herdou. No entanto, não queria ficar olhando o jogo lá de trás. “Meu lugar é no meio campo, já chegando na área do adversário”, talvez tenha dito para o pai.
Como é gostoso imaginar o que tenha passado na cabeça desse gênio gentil. Entretanto, posso afirmar com precisão que até mesmo eu, que fui um menino desde cedo cercado por botões, e nem sendo torcedor do Verdão, pelo menos até então, tive um do Ademir. Sim, um botão verde, a foto do Divino ao centro. Infelizmente, o tempo acabou me levando tal relíquia, mas a memória, ainda que falha, não me deixa esquecer de algumas jogadas divinas desse mestre da arte de jogar futebol.
E se o pai era incapaz de dar um pontapé, o Ademir recebeu vários, inúmeros, infinitos. Todos, porém, foram ineficazes, pois não o fizeram truculento, já que a elegância sempre o acompanhou. Você já viu uma entrevista do Ademir? Pois assista! Aquela voz macia, doce até, o levará a vislumbrar o futebol encantador desse Guia do Palmeiras por anos a fio.
Minha esposa sabe muito bem disso! Tanto é que ela afirma com todas as letras que o Ademir é o maior jogador da história. Não há Garrincha, Pelé ou Maradona que consiga suplantar as façanhas do craque palmeirense. Faço até uma confissão para você: ela me intimou a ser torcedor do Palmeiras. E ai de mim, se eu me recusasse. Mas, falando a verdade, nem foi tão difícil assim, já que as fartas recordações da minha infância, quando o Ademir era absoluto, conseguiram dar um tom de clorofila ao meu coração.
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*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.