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Gougon, 78 anos

Adeus garoto que fazia jornalismo brincando, sem brincar de ser repórter

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Autor/Imagem:
José Seabra - Foto Reprodução/Redes Sociais

O fim de semana em Brasília ficou mais cinzento com a notícia da partida de Gougon, o repórter que, com seu sorriso doce e olhar sagaz, fez do jornalismo uma arte leve e profunda. Gougon nos deixou na sexta, 16, aos 78 anos, mas seu legado de humor e compromisso com a verdade permanecerá.

Gougon não era um jornalista comum. Disso sou testemunha, como colega dele na sucursal da Folha de S.Paulo, nos anos 70 e 80 do século passado. Ele sabia que as notícias, tão pesadas e difíceis de digerir, podiam ser contadas de maneira diferente.

Para ele, o jornalismo não precisava ser sisudo para ser sério. Suas reportagens sempre traziam um toque de leveza, uma piada sutil, um jogo de palavras que deixava os leitores com um sorriso no rosto. Mas isso nunca foi sinônimo de falta de seriedade. Gougon brincava com as palavras, mas jamais com a verdade. Fazia jornalismo brincando, mas não brincava de fazer jornalismo.

Nascido em Minas Gerais, Gougon descobriu cedo sua paixão pelas histórias. A Minas de Gougon não há mais. O Estado, com seus personagens pitorescos e acontecimentos inusitados, foi o palco perfeito para o jovem que planejara se aventurar no mundo do jornalismo. Quando se mudou para Brasília, carregou seu olhar encantado, que via graça nas pequenas coisas e relevância nos detalhes mais insignificantes.

Com o tempo, Gougon se tornou conhecido por suas entrevistas descontraídas, nas quais arrancava risadas de seus entrevistados, mas também revelava aspectos surpreendentes de suas personalidades. Ele sabia que, por trás de cada resposta, havia uma verdade escondida, e sua habilidade estava em desvendá-la sem que seu interlocutor percebesse.

Suas coberturas jornalísticas foram marcadas por momentos inesquecíveis. Em meio ao caos e à tensão de eventos importantes, Gougon era aquele que conseguia extrair o inusitado, o detalhe que os outros repórteres deixavam passar. Em uma cobertura política, enquanto todos se concentravam nas discussões acaloradas, ele notava o brilho nos olhos de um deputado ao falar de sua infância. E transportava esse mundo desconhecido para as páginas dos jornais.

Gougon fez do jornalismo sua brincadeira séria. Com seu jeito único, mostrou que é possível informar e entreter, que a leveza pode caminhar de mãos dadas com o compromisso ético. Ele ensinou que o jornalismo não precisa ser pesado para ser verdadeiro, que o humor pode ser uma ferramenta poderosa para se chegar à essência dos fatos.

O jornalismo perde um de seus grandes nomes, mas fica a lição de que, assim como Gougon, devemos sempre procurar a verdade com um sorriso no rosto e a leveza no coração. O mundo fica um pouco mais sério sem ele, mas as lembranças de suas palavras brincalhonas e certeiras continuarão a nos inspirar. Descanse em paz, Gougon. Que seu riso ecoe eternamente nas redações e corações de quem teve o privilégio de ler suas brilhantes reportagens.

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