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Adolescentes da Rocinha criam ‘jogo do passinho’ para ajudar a combater iniciação às drogas

Francisco Ronaldo, Júlia Ferreira e Allison Cavalcante, jovens moradores da Rocinha, favela da zona sul do Rio de Janeiro, são os criadores do “Passinho Dance”, jogo desenvolvido para sistema Android e inspirado no passinho, a dança que virou febre nas comunidades cariocas.

O empreendedorismo do trio de estudantes, todos de 15 anos, tem justificativa social. Segundo Júlia, idealizadora do game, o objetivo é tirar jovens da rota de inserção no tráfico de drogas e mesmo resgatar aqueles que já entraram para o mundo do crime organizado.

“Eu acho que o jogo pode ajudar esses meninos que se sentem seduzidos a entrar para a vida do crime. Ele vai mostrar para toda a comunidade que o jovem da favela pode ser representado de uma maneira correta. A comunidade tem coisas boas também, não são apenas coisas ruins”, afirmou ela.

“Atualmente, muitos jovens moradores da favela pensam que o tráfico é uma profissão. Eles sonham em chegar a dono do morro. O jogo tem como objetivo mudar um pouco isso e mostrar para os jovens que o tráfico não pode ser visto como uma opção. É uma cultura que tem que ser mudada”, completou Allison.

Os três fazem parte do Acelera Favela, programa social da ONG Tunnel Lab, que seleciona projetos com foco no desenvolvimento de start-ups. Em janeiro, o embrião do “Passinho Dance” surgiu com a criação do “Favela Game”, um plano de criação de uma “empresa-escola” de games direcionada para jovens moradores de favelas.

A primeira ideia do grupo era produzir um tapete que, com sensores e conexão via bluetooth, reconheceria os movimentos dos usuários, interagindo com o aplicativo. No entanto, Ronaldo, Júlia e Alllison observaram que o lançamento desse tipo de produto teria um custo muito alto e seria incompatível com a realidade do projeto. O trio então decidiu priorizar o aplicativo, concebendo-o como produto principal.

Entre maio e junho, os estudantes trabalharam diariamente para desenvolver uma versão de teste. O jogo foi lançado oficialmente no dia 26 de junho. Em apenas uma semana, segundo os criadores, mais de mil pessoas baixaram. Pelo menos 70% dos downloads foram feitos por moradores de comunidades.

“A parte do marketing foi no boca a boca, e a adesão foi muito boa dessa forma. Além disso, o Facebook e as redes sociais estão aí para isso”, disse Allison.

A grande adesão das favelas serviu como base para elaboração de um plano de negócios. Para tirá-lo do papel, os jovens precisam de R$ 40 mil, que seriam utilizados na aquisição de ferramentas, recursos tecnológicos e outras despesas, como o deslocamento dos jovens e a contratação de um designer para melhorar a experiência de jogo.

Os adolescentes criaram uma página de financiamento coletivo na plataforma “Sibite”, e os interessados em participar podem fazer doações a partir de R$ 10. Até o momento, eles arrecadaram apenas R$ 930. A campanha vai até a semana que vem. O tempo é curto, e eles precisam chegar a pelo menos R$ 20 mil para que as doações sejam concretizadas.

“Não vamos desistir. Se a gente não conseguir agora, com o financiamento coletivo, vamos continuar batalhando”, declarou Ronaldo. A ONG Tunnel Lab também está à procura dos chamados “anjos” (patrocinadores) e parcerias com a iniciativa privada e/ou empresas públicas. “A gente tem até o fim de setembro. É um sonho, e a gente vai correr atrás dele”, disse Júlia.

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