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Parte V - A desilusão

Adolf desiste de ser filho de Tio Sam e desce do navio para ser o ditador que foi

Publicado

Autor/Imagem:
J. Emiliano Cruz - Foto Produção Irene Araújo

Enquanto isso, em uma cabine de primeira classe no interior do navio Speranza:

– Adolf, Tom e eu queremos conversar com você sobre algo que já deveríamos ter contado há algum tempo.
– Vocês parecem muito sérios para esse nosso momento que é tão feliz,.. o que aconteceu, Stef?

-Adolf…Tom e eu nos amamos! Queremos nos casar assim que chegarmos à América. Eu já queria ter te falado isso muito antes, mas Tom não queria ferir os teus sentimentos. Espero que você entenda e nos perdoe por não termos te contado antes.

Em estado de choque, Adolf replicou instantaneamente:

– Como? Isso é uma brincadeira? O que você tem a dizer sobre isso, Tom?

– O que ela disse é verdade, Adolf…me perdoe, mas aconteceu! Decidimos contar a você agora porque seria impossível viajarmos todos juntos até a América escondendo isso de você. Nós dois te consideramos um irmão e queremos que isso continue assim.

Adolf emudeceu e seu rosto se transfigurou. Repentinamente, a vida não fazia mais sentido para ele.

Após levar as duas mãos ao rosto, o jovem pintor virou-se de costas para os dois amigos e gritou com ódio na voz estridente:

– Quero sair daqui agora! Beide fahren zur Hölle!

Ainda descontrolado, Adolf deixou a cabine e andou rápido pelo corredor do navio. Após avistar um funcionário, aproximou-se e gritou com todas as suas forças:

– Me tire já desse navio! Agora!

Pesaroso, Tom falou para Stefanie:

– Vamos atrás dele, Stef, quem sabe quando ele se acalmar e conversarmos melhor, ele aceite a situação e não desista de viajar com a gente.

-Não, Tom, infelizmente ele nunca conseguiria superar essa decepção…conheço Adolf! Ele não consegue lidar com situações que exijam empatia e abomina qualquer contrariedade aos desejos mais imediatos dele.

No fundo, sabíamos que isso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde e não podemos fazer nada!

Isso é o pêndulo do destino definindo os caminhos das nossas vidas e da vida dele.

– Sim, Adolf tem sérias limitações no aspecto emocional, mas como lamento tudo isso, Stef! Ele até esqueceu de levar a maleta dele com o dinheiro.

– Na verdade, esse dinheiro não é mais dele, já que desistiu de cumprir o que foi combinado com os americanos…mas também não é nosso. Vamos entregar ao senhor Vito quando chegarmos à América.

– E tem mais isso, Stef, será que o fato de você chegar na América comigo e não com o Adolf ao seu lado não vai causar problemas para você?

– Não sei, Tom, o que sei é que eu estou cumprindo o acordo com os americanos! Não tenho nenhuma responsabilidade se o Adolf desistiu de viajar e de cumprir a parte dele.

– Bem…só saberemos mesmo quando encontrarmos o senhor Vito em Nova York, não é mesmo?

– O importante é que possamos ficar juntos, meu querido! Mas estou com um pressentimento que vai dar tudo certo para nós, disse Stefanie.

Em uma pizzaria de Nápoles, alheios aos eventos recentemente ocorridos no Esperanza, Bárbara e Don conversavam descontraidamente, quando, surpresa Bárbara, observou:

– Olha ali, D, não são os pais do Tom?

– São eles mesmo B, acho que eles tiveram a mesma ideia que nós.

– Já nos viram! Estranho, parecem preocupados…vou falar com eles.

– Olá, senhor e senhora Hagen! Vocês ficaram no porto para acompanhar a partida do navio, não? Correu tudo bem?

Apreensivo, o senhor Hagen respondeu:

– Ficamos sim, senhora Bárbara… mas, infelizmente, não temos boas notícias.

– O que houve? Perguntou Don, com o coração em disparada.

– Vimos Adolf desembarcar do navio. Tentamos falar com ele, mas ele saiu correndo e não conseguimos alcançá-lo. Agora, com licença, vamos nos sentar naquela mesa lá no fundo.

Don e Bárbara cruzaram olhares perplexos e, intuindo o que poderia ter causado a desistência de Adolf, permaneceram por algum tempo em um silêncio amargurado que lhes pareceu durar uma eternidade.

– Falhamos, D! Não podemos mais acionar a Irmandade para que eles enviem John e Jane e nem temos mais tempo para encontrar Adolf. Algo dentro de mim me dizia que isso iria acontecer…agora entendo os calafrios que eu sentia quando olhava nos olhos da Stefanie.

Pesaroso e com a cabeça baixa, Don lamentou:

– A culpa foi toda minha, parceira! Você tinha razão o tempo todo. Não deveríamos ter permitido que Tom embarcasse com eles. E, depois, deveríamos ter esperado no porto até o navio zarpar. Apenas depois disso é que eu deveria ter enviado o sinal positivo de missão cumprida para a Irmandade.

– Meu querido D, se houve alguma culpa, ela pertence meio-a-meio a nós dois… mas não acredito nisso! Ainda acho fizemos o melhor possível. Sinto que houve a atuação de forças muito além da nossa compreensão que produziram esse desfecho.

– Obrigado por dizer isso, minha querida parceira, mas o que Wesley, Fox e a Irmandade vão pensar disso? Você merecia um parceiro melhor, alguém que estivesse à altura da sua intuição e da competência.

– Meu querido, você foi ótimo, como sempre! Não me importa o que a Irmandade vai avaliar sobre tudo isso ou o que eles vão pensar sobre nós. Eu não trocaria você por nenhum outro parceiro desse mundo. Você sempre será o meu maravilhoso, encantador e insuperável, Don!

– Minha querida e incrível, Bárbara! Eu não existo sem você. Nunca tive coragem para te dizer isso claramente antes, mas eu te amo há muito tempo!

– Eu também te amo, meu querido Don!

Após um longo, caloroso e reconfortante abraço e um beijo apaixonado, Bárbara ficou pensativa e perguntou:

– Don, você acha que Stefanie e Tom vão ficar bem?

– Tenho certeza que sim, Bárbara! Mesmo que Adolf não esteja com eles, o selo da IAD com o nome dos dois é garantia mais do que suficiente de que Dom Vito vai cuidar deles como se fossem membros da famíglia.

– Sei que é muito pouco, mas, ao menos, conseguimos livrar duas pessoas dos horrores que a Europa, em especial, ainda vai viver. Que os dois sejam felizes!

– Sim, minha querida, agora eles estão por conta para serem artesãos do próprio destino…assim como, juntos, nós também podemos ser do nosso, mesmo que não tenhamos conseguido mudar o curso do grande rio da História como queria a IAD.

…………………….

O sexto (e último capítulo) será publicado no domingo, 23

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