Apontado como futuro candidato do PSDB ao Planalto desde que ganhou destaque nacional como presidente da Câmara dos Deputados em 2001, o senador mineiro Aécio Neves vive agora uma situação inusitada para qualquer candidato tucano desde 1989: a possibilidade de ser derrotado sem sequer chegar ao segundo turno.
Visto por aliados como um gestor eficiente capaz de fazer auxiliares entregarem resultados e o homem certo para levar adiante a herança política do avô Tancredo Neves, é criticado por adversários por ser um político que controla a imprensa com pulso firme e um representante de Minas Gerais que passa tempo demais em festas no Rio de Janeiro.
“Eu acho que o Aécio combina uma extraordinária habilidade política, para a política partidária, para as composições eleitorais, com uma clareza muito grande de objetivos, do que ele quer atingir”, disse o senador paulista Aloysio Nunes (PSDB), candidato a vice na chapa de Aécio, em entrevista recente à Reuters na qual também rebateu a fama de “playboy” do presidenciável tucano.
“Ele é um sujeito que gosta da vida. Gosta de comer bem, gosta de amigos, gosta de tomar os seus aperitivos. É uma pessoa normal. Agora, é extremamente disciplinado. O Aécio é um sujeito muito disciplinado e trabalhador. Não apenas na política mas na administração. Foi um excelente governador de Minas Gerais.”
Independentemente da opinião que desperte, o fato é que Aécio, aos 54 anos, finalmente chegou à posição que parecia que seria sua, mais cedo ou mais tarde: a candidatura à Presidência da República.
Mas um fato inédito em disputas presidenciais no Brasil –a morte do então candidato do PSB, Eduardo Campos, e sua substituição por Marina Silva– ameaça frustrar os planos do tucano.
“Nós estamos tendo, na verdade, uma nova eleição em razão de tudo o que ocorreu, inclusive, com mudança de candidaturas”, tem repetido Aécio desde que Marina se tornou candidata e o ultrapassou nas pesquisas de intenção de voto.
Às vésperas da eleição de domingo, o tucano voltou a ganhar terreno, ao passo que a candidata do PSB perdeu força, e o que parecia distante nos primeiros levantamentos feitos após a morte de Campos, a ida de Aécio ao segundo turno, que ele gosta de chamar de “a onda da razão”, parece agora uma possibilidade real.Aécio governou Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, por dois mandatos, assumindo em 2003 e deixando o cargo em 2010 com altíssimos índices de popularidade, para disputar uma vaga no Senado.
Acabou sendo uma espécie de “prêmio de consolação” para o tucano, que com uma grande aprovação no governo mineiro era apontado como postulante natural do PSDB ao Planalto naquela eleição, depois das derrotas de José Serra, em 2002, e de Geraldo Alckmin, em 2006. Mas Serra impôs seu nome mais uma vez e acabou derrotado pela presidente Dilma Rousseff (PT).
Eleito senador, conseguiu fazer seu sucessor em Minas com uma vitória no primeiro turno do até então pouco conhecido Antonio Anastasia, que era seu vice e assumiu o governo com a saída de Aécio. Com isso, credenciou-se como candidato natural à Presidência da República em 2014 e principal nome da oposição.
“Ele forma a equipe, estabelece o planejamento estratégico, fixa metas objetivas, supervisiona, descentraliza a gestão e cobra resultados”, disse o deputado federal Marcus Pestana, presidente do diretório mineiro do PSDB, que foi secretário de Saúde do governo Aécio.
O tucano foi eleito no primeiro turno nas duas vezes que disputou o governo do Estado –teve 58 por cento dos votos em 2002 e 77 por cento em 2006– e foi o governador melhor avaliado do Brasil, segundo o Datafolha, que no final de 2009 mostrou que 73 por cento dos mineiros consideravam seu governo ótimo ou bom.
Com a marca do “choque de gestão”, programa pelo qual enxugou a máquina pública, Aécio buscou o carimbo de gestor eficiente, que também procurou propalar na disputa presidencial. Mas em seu Estado, nem todos parecem concordar com esta marca.
“Indicadores colocam Minas Gerais com os maiores índices de desigualdade no país”, disse a cientista política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Helcimara de Souza Telles.
Críticos do senador mineiro afirmam ainda que ele estabeleceu uma “censura” na imprensa do Estado, eliminando os espaços para opositores e garantindo que somente reportagens favoráveis fossem publicadas.
E, segundo esses adversários, a ferramenta escolhida foi o controle das verbas publicitárias, por meio da criação do Grupo Técnico de Comunicação, no qual Andrea Neves, a irmã de Aécio, é quem daria as cartas.
“Os órgãos de comunicação de Minas Gerais são mantidos com mãos de ferro”, disse o deputado estadual Pompílio Canavez (PT), líder do bloco “Minas Sem Censura”, que faz oposição ao governo tucano na Assembleia Legislativa do Estado.
Integrante da terceira geração de uma família de políticos –além de Tancredo, o outro avô, Tristão Cunha, era político, assim como o pai, Aécio Cunha– Aécio é elogiado por sua capacidade de articulação, que o colocou à frente de uma aliança improvável na eleição de 2008, quando PT e PSDB se uniram para eleger Márcio Lacerda (PSB), prefeito de Belo Horizonte.
A decisão de Campos de romper a aliança do PSB com o governo Dilma para lançar-se ao Palácio do Planalto e a necessidade de um palanque para chamar de seu em um Estado importante como Minas, provocaram o fim da aliança entre socialistas e tucanos no Estado.
Ainda assim, a relação entre Aécio e o PSB manteve-se boa. O tucano, aliás, declarava-se amigo de Campos.
“O Aécio é um grande político. Teve excelente gestão no governo de Minas”, disse o deputado federal Júlio Delgado, presidente do PSB mineiro.
Divorciado e pai de uma filha, Aécio casou recentemente com a modelo Letícia Webber, 20 anos mais nova que ele e com quem recentemente teve gêmeos –um menino e uma menina.
Amigo de celebridades, como o ex-jogador Ronaldo e o apresentador Luciano Huck, em 2011 foi parado numa blitz da Lei Seca, no Rio, com a carteira de habilitação vencida. Se recusou a fazer o teste do bafômetro e, à época, argumentou que não fez o teste porque não poderia seguir guiando, já que estava com o documento vencido.
Durante a campanha deste ano, teve por várias vezes de responder sobre este episódio. Em uma delas, no jornal O Estado de S. Paulo, chegou a sugerir que a plateia checasse a validade de suas habilitações. Em outra, ao ser entrevistado pelo Jornal da Record, reconheceu que errou ao não fazer o teste.
“Foi um erro, e no meu caso porque a carteira estava vencida há 30 dias, então não tinha como eu fazer e voltar dirigindo. Mas um erro. Eu sou um homem do meu tempo, reconheço erros, tenho uma vida pública de 30 anos de serviços prestados ao país”, justificou-se.
A presença frequente do tucano no Rio de Janeiro é, inclusive, um dos alvos prediletos de seus adversários políticos.
“O pessoal brinca que ele fez a Cidade Administrativa no meio do caminho para Confins para ficar mais fácil” as viagens para o Rio de Janeiro, disse o deputado estadual Sávio Souza Cruz (PMDB), um dos integrantes do “Minas Sem Censura”, numa referência à nova sede do governo estadual, construída durante a gestão Aécio na mesma rodovia que leva ao aeroporto de Confins.
Para o deputado tucano Pestana, no entanto, as críticas às viagens de Aécio ao Estado vizinho não passam de “folclore”.
“A resposta para isso está nos resultados das últimas eleições”, disse, referindo-se à reeleição de Aécio em 2006, à eleição de seu sucessor, Antonio Anastasia, em 2010, e à de Lacerda à prefeitura da capital em 2012, quando foi apoiado pelo senador contra um candidato do PT.
Eduardo Simões, Reuters