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Afinal, somos mais felizes hoje que nossos ancestrais?

No decorrer da história, os seres humanos experimentaram avanços tecnológicos, científicos e sociais que nos tornaram muito mais poderosos do que nossos antepassados. Mas será que isso aumentou nossa felicidade?

Embora os historiadores não frequentemente reflitam sobre essa questão, trata-se de um tema que pode ter uma relevância fundamental em nossa compreensão da história.

A economia moderna tem se centrado não apenas na prosperidade, mas também na felicidade das pessoas. Iniciativas como a da Comissão Europeia em 2007, “Além do PIB”, sugerem que o bem-estar poderia se tornar um critério econômico básico. Isso indica uma mudança de paradigma: da busca pelo crescimento econômico para a busca pela felicidade.

Apesar desses esforços, a relação entre poder e felicidade é complicada. Alguns argumentam que o progresso não aumentou necessariamente a felicidade humana.

Um exemplo é a Revolução Agrícola, que embora tenha aumentado o poder coletivo da humanidade, não melhorou a qualidade de vida individual. Os camponeses trabalhavam longas horas e tinham uma dieta pior do que os coletores de impostos, sofrendo de doenças e desnutrição.

Essa crítica se estende a outros períodos históricos. A expansão dos impérios europeus, embora tenha permitido a troca de ideias e tecnologias, resultou em desastres para milhões de nativos na América, África e Austrália. Mesmo o Renascimento europeu beneficiou principalmente as elites masculinas.

Por outro lado, a visão romântica da história sugere uma correlação inversa entre poder e felicidade.

Argumenta-se que a industrialização, o capitalismo e o consumismo alienaram as pessoas de seus ambientes naturais e de suas comunidades, criando uma sensação de vazio espiritual e desintegração social.

No entanto, essa visão pode ser excessivamente pessimista. Os avanços na medicina moderna, por exemplo, reduziram drasticamente a mortalidade infantil e aumentaram a expectativa de vida, o que certamente contribuiu para a felicidade de muitas pessoas. Além disso, a violência global diminuiu e a qualidade de vida melhorou para muitos.

A complexidade do tema também se reflete em nossas expectativas. A felicidade pode depender menos de nossas condições objetivas e mais de nossas expectativas. Quando as condições melhoram, nossas expectativas aumentam, e podemos nos sentir igualmente insatisfeitos como antes.

Esta é a chamada “esteira hedônica”: sempre queremos mais, sem nunca alcançar a satisfação plena. Além disso, os meios de comunicação e a biologia evolutiva também desempenham um papel. A mídia nos compara constantemente com modelos e celebridades, elevando nossas expectativas e diminuindo nossa satisfação.

Sob uma perspectiva biológica, nossa felicidade é regulada por nosso sistema bioquímico, que nos mantém em um estado de busca constante para assegurar nossa sobrevivência e reprodução.

Em resumo, embora sejamos mais poderosos e talvez mais prósperos do que nossos antepassados, não está claro que sejamos mais felizes. Nossa felicidade parece estar presa em um ciclo de expectativas e sensações bioquímicas que não podem ser facilmente satisfeitas pelo progresso material.

Finalmente, a felicidade é um tema complexo e subjetivo. A história nos mostra que o poder e o progresso não garantem a felicidade, e pode ser que a chave esteja em ajustar nossas expectativas e valorizar mais as relações e experiências do que as posses materiais. A reflexão sobre esses temas nos convida a considerar o que realmente nos faz felizes e como podemos equilibrar o progresso com o bem-estar humano.

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