“Pena, que pena, que coisa bonita, qual a palavra que nunca foi dita. Qualquer maneira de amor vale à pena”. (Milton Nascimento/Caetano Veloso)
Era o tempo da terrível pandemia, 2021. Estávamos todos em pânico, com medo da morte. Afinal, a morte ficou “democrática” e ganhou todas as camadas, as classes sociais e as pessoas. De máscaras, tomávamos três banhos por dia e fazíamos rituais de limpeza jamais imaginados. Tudo pela sobrevivência.
Na TV, um presidente charlatão e criminoso zombando de todos nós, imitava pessoas sem fôlego morrendo. Foram 700 mil pessoas mortas vítimas do covid 19. Jamais nos esqueceremos dos dias trágicos e de tantos absurdos cometidos em nome da política do poder.
Em meio a isso tudo, cada um buscava seguir a sua vida de sobrevivência. Eu, com diagnóstico de Hepatite C, “mosqueava” pelos Postos de Saúde em busca das pílulas caríssimas do laboratório do Canadá.
No final do ano, entra uma mensagem em meu WhatsApp. Era dela, minha ex-mulher companheira desde 2014, mas separados e distantes há alguns anos. Operou o útero e estava sozinha morando no interior de São Paulo. “Vem pra cá”, escreveu ela. Fui direto e na mesma hora. Afinal, parcerias são eternas e amores –mesmo inacabados- sobrevivem além dos orgulhos e posições antagônicas. Pois foi assim.
“Afinal, uma história de amor”, é um desafio para mim, pois aprendi com a vida a escrever crônicas, novelas, contos trágicos onde o amor nem sempre têm finais felizes. Então resolvi escrever um texto sem parágrafo, direto, na linha do Zé Saramago, aos bofetões, aos vômitos; danem-se os leitores:
“Vivemos novamente felizes por três anos. Certo dia, ao voltarmos de férias do Arraial d’Ajuda, na Bahia, ela cansou e delicadamente me dispensou. Na primeira hora, tentei achar os motivos. Depois, os motivos nos acharam. Amores, encontros e desencontros são assim. Dias depois, nos perdemos sem ao menos conseguirmos nos encontrar de verdade, mas ficou o amor, o amor que a tudo restaura e acalma, e assim foi e assim é, o amor que se transforma o tempo todo, acima de tudo, afinal, todos nós precisamos de uma grande história de amor.”