A África do Sul viu nas últimas hora a disseminação de protestos até então localizados em resposta à prisão do ex-presidente Jacob Zuma, no último dia 7. Em Johanesburgo, apoiadores de Zuma foram às ruas e, durante a madrugada, lojas foram saqueadas e parte de uma rodovia foi bloqueada.
Até o momento, os protestos estavam concentrados na província natal de Zuma, KwaZulu-Natal, onde ele começou a cumprir uma pena de 15 meses de prisão por desacato na quarta-feira, após se recusar a depor em processos de casos de corrupção.
No domingo, o presidente Cyril Ramaphosa disse que não há justificativa para a violência. Segundo ele, as manifestações estão atrapalhando os esforços para reconstruir a economia em meio à pandemia de covid-19.
A sentença e a prisão de Zuma são vistas como um teste para o Judiciário do país e sua capacidade de agir mesmo contra políticos poderosos, 27 anos após o fim do apartheid. A detenção irritou os aliados do ex-presidente e expôs fissuras dentro do partido governista, o Congresso Nacional Africano (CNA), ao qual Ramaphosa também pertence.
A polícia disse que criminosos estão tirando vantagem da insatisfação popular para roubar e causar prejuízos. O órgão de Inteligência nacional do país, o NatJoints, alertou que aqueles que incitam a violência poderão ser acusados criminalmente.
Em um comunicado, as autoridades afirmaram que 62 pessoas foram presas nas províncias de KwaZulu-Natal e Gauteng, o principal polo econômico do país, onde fica Johanesburgo. A polícia da cidade afirmou que houve saques no bairro periférico de Alexandra e no subúrbio de Jeppestown.
A importante rodovia M2 foi fechada após relatos de disparos contra veículos que passavam na região. Uma equipe de televisão da Reuters, por sua vez, viu grupos de manifestantes carregando pedaços de madeira, tacos de golfe e galhos de árvore enquanto marchavam pelo distrito financeiro da cidade, onde lojas de bebidas foram roubadas e vitrines, quebradas.
A venda de bebidas alcoolicas está atualmente proibida no país, devido às restrições impostas para conter a pandemia de covid-19. As medidas buscam reduzir a pressão nos hospitais diante de uma terceira onda de infecções.
O país tem hoje uma média móvel de quase 20 mil casos diários, similar à vista no pico do início do ano, e viu os novos diagnósticos crescerem 28% nas últimas duas semanas. Em média, 375 sul-africanos morrem diariamente de covid-19.
A vacinação também segue a passos lentos. Apenas 2,3% da população do país tomou as duas doses, e cerca de 6,4% tomou ao menos uma.
O porta-voz da polícia de KwaZulu-Natal, Jay Naicker, disse que também houve saques em eThekwini, região que engloba a cidade costeira de Durban. “Nós vimos muitos criminosos e pessoas oportunistas tentando lucras com esta situação”, afirmou.
Zuma foi preso por desafiar uma ordem do Tribunal Constitucional, a instância máxima da Justiça do país, para depor em uma investigação que apura denúncias de corrupção nos nove anos em que esteve no poder, entre 2009 e 2018. Ele nega ter agido irregularmente, mas se recusa a cooperar com a investigação.
O ex-presidente entrou com um recurso contra a detenção, alegando que sua saúde é frágil e que seu risco de contrair covid-19 seria maior na prisão. O caso será avaliado na segunda-feira.
Neste domingo, representantes das lideranças parlamentares afirmaram ser “solidários às dificuldades pessoais” de Zuma. Afirmaram, contudo, que o “Estado de direito e a supremacia da Constituição devem prevalecer”.
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