Lá estava o Santana arrastando o corpanzil para mais um plantão na delegacia. Nesse dia em questão, o humor não estava dos melhores. Mas sejamos justos com o policial, já que isso é coisa rara, se bem que acontece todos os dias. Até em sonhos, dizem as más e até as boas línguas, o Santana vive resmungando.
Entrou no recinto, passou direto sem cumprimentar quem quer que fosse. Nem mesmo uma simples troca de olhares, ainda mais porque ali se encontrava o agente Ricky Ricardo, para quem o Santana devia uma grana há tempos e, pelo visto, ainda não encontrara ânimo para quitá-la. Mas não pense que o Ricky achava tal situação ruim. Na verdade, ele até gostava, pois tinha o seguinte pensamento: “Me livrei de um zé ruela por cem reais. Saiu quase de graça!”
Além do Ricky e do Santana, também estavam na delegacia os agentes Meio Quilo e Satanás, além do delegado Maurinette, que, por conta da pinta de galã, estava tentando virar ator. Quanto ao escrivão Tô Chegando, ainda não havia chegado, mas já mandara mensagem dizendo que daqui a pouco, no mais tardar até o final do plantão, estaria na delegacia.
Já na cozinha, o Santana encheu uma xícara de café. Fez cara de quem não gostou, mas, logo que viu a Sissi, que havia preparado uma garrafa da bebida mais brasileira, tentou disfarçar. Pois é, até o Santana sabia que a mulher não aceitava desaforo.
— Tá uma delícia, Sissi!
— Hum! Ainda bem, Santana! Fica esperto, pois comigo o buraco é mais embaixo.
O Santana desviou o olhar e tornou a encher a xícara na esperança de convencê-la de que havia mesmo gostado do café. Sorveu tudo forçando um sorriso debaixo do vasto bigode. Pensou até em encher a xícara novamente, mas começou a sentir tonteira por conta de tanta cafeína. Melhor evitar um piripaque.
Enquanto isso, aproveitando o raro momento de calmaria na delegacia, os policiais estavam de bate-papo. Todavia, não tardou, entrou uma mulher esbaforida, que era conhecida da prima de uma tia, que, por sua vez, seria vizinha de um amigo do irmão do delegado Miranda. Ela havia sido vítima de furto.
— Me falaram pra procurar um policial gordinho, que ele resolveria a minha situação.
Instintivamente, todos, inclusive o Meio Quilo, encolheram a barriga. Sobrou pro Santana, que apareceu naquele exato momento. A mulher não teve dúvida.
— É você!
O riso foi geral.