Especialista em clientes de baixa renda, geralmente mal informados sobre questões financeiras e pouco afeitos às artimanhas da internet, na semana passada o Agibank tentou aplicar um golpe em um aposentado para, de forma maliciosa, conseguir que ele fizesse a portabilidade de seus empréstimos consignados junto no Banco do Brasil e no Banco Pan com uma falsa proposta de compra das suas dívidas junto a essas instituições.
A operação funcionaria assim: o Agibank compraria os empréstimos do aposentado no Banco do Brasil e no Banco Pan com um desconto da ordem de 40%. Parte desse montante, entre 10% e 20%, o Agibank repassaria ao consignatário que ainda teria a vantagem de uma redução substancial das prestações dos seus empréstimos, e mantidos os números de parcelas devidas ao BB e ao Pan.
De acordo com a proposta que o Agibank enviou ao aposentado, de imediato ele receberia em sua conta a importância de R$ 6.140,50 a título de “valor liberado pela operação de compra de dívida”. Além disso, seria mantido o número de parcelas devidas pelo aposentado conforme observação da proposta: “o prazo contratual permanece o mesmo”.
Assim, nos dois contratos de empréstimo consignado do aposentado junto ao Banco do Brasil, no primeiro o valor cairia dos atuais R$ 251,67 para R$ 177,12 nas 48 parcelas restantes, enquanto no segundo o valor seria reduzido dos atuais R$ 1.000,86 para R$ 897,15 nas 47 parcelas que ainda estão a vencer.
Com o Banco Pan o aposentado tem outros quatros empréstimos consignados. No primeiro, o valor de R$ 158,70 cairia para R$ 96,20 nas 55 parcelas restantes; no segundo, de R$ 110,00 para R$ 86,01 nas 67 parcelas restantes; no terceiro, de R$ 238,00 para R$ 170,29 no mesmo prazo de 67 meses, enquanto no quarto empréstimo o valor seria reduzido de R$ 258,00 para 178,95 em cada uma das 67 parcelas ainda devidas pelo aposentado.
Com o “de acordo” do aposentado, seguiram-se sua identificação com fotografia feita diretamente e por meio de uma ligação de vídeo por iniciativa do banco quando a atendente lhe informou que em seguida lhe seria enviado por sms um link do “contrato de portabilidade” para ser assinado eletronicamente. Prontamente o aposentado reagiu, afirmando para a atendente do Agibank que o contrato deveria ser de “compra de dívida”, e não de portabilidade.
A funcionária do Agibank respondeu que iria esclarecer a questão com o gerente que tratava do contrato, mas logo em seguida o aposentado recebeu um sms com a seguinte mensagem: “Para confirmar as condições de sua proposta e realizar a contratação siga as instruções do link: https://assinaturadigital.agibank.com.br/66f7000636275a2fadb0fb6d
Ao acessar o link, recebido às 15h58 da última sexta-feira (27/9), o aposentado percebeu que o contrato enviado pelo Agibank não tratava de venda de dívida, mas de uma portabilidade simples, onde ele receberia um valor em torno de R$ 9.500,00 – e não mais os R$ 6.140,50 da proposta inicial – e pagaria mais 84 parcelas de cada um dos seis contratos e nos mesmos valores que atualmente são pagas ao Banco do Brasil e ao Banco Pan, e não as parcelas restantes de cada contrato.
Diante desse desencontro em relação à proposta inicial do Agibank, aceita pelo aposentado, ele relatou o ocorrido ao gerente de quem havia recebido a proposta de compra de sua dívida junto ao BB e ao Pan e lhe informou que não aceitaria os termos do contrato recebido do banco. Na troca de mensagens com seu cliente, o gerente garantiu que estava havendo um engano, provavelmente devido à instabilidade do sistema do banco durante aquele dia, mas que o problema seria resolvido.
Não foi. Como o expediente bancário se aproximava do seu final na última sexta-feira, o gerente disse ao cliente que a questão seria esclarecida na segunda-feira. Mas a segunda-feira passou sem que o gerente, antes tão solícito, cumprisse a promessa; nem mais atendeu as chamadas telefônicas ou respondeu às mensagens do aposentado, permanecendo assim até a noite dessa terça-feira, (2) quando esse texto foi concluído.
Com relação ao contrato recebido por link enviado pelo Agibank, o aposentado escolheu o botão “nào”. Ao clicar, o contrato desapareceu da sua tela e foi substituído por uma página de cor azul celeste do Agibank, onde era informado em letras brancas que “sua proposta foi rejeitada” e que “Para retomar a contratação, você deverá realizar uma nova simulação.” Mas a rejeição da proposta não partiu do banco, e sim do aposentado, que com um simples clique livrou-se de um golpe do Agibank.