Depois de emplacar na direção da Adasa uma carta que tirou da manga no apagar das luzes da sua administração, o governador Agnelo Queiroz (PT) tenta uma última manobra antes de passar a faixa ao sucessor Rodrigo Rollemberg (PSB). O petista quer porque quer colocar de volta na cadeira de presidente do Banco de Brasília algum dos seus velhos aliados que já passaram pelo BRB.
O que se vê é uma luta fratricida entre Edmilson Gama, Jacques Pena e Paulo Evangelista, para saber quem receberá mais afagos de Agnelo. Embora o governador tenha buscado apoio entre petistas históricos que costumam dar tapinhas nas costas de Rollemberg, o Sindicato dos Bancários já manifestou sua contrariedade com quaisquer desses nomes. A categoria entende que o cargo deve ser ocupado por um servidor de carreira do banco.
Preocupados com o futuro do BRB, que apresentou resultados desastrosos enquanto esteve nas mãos, sucessivamente, de Gama, Pena e Evangelista, servidores do banco, representados pelo sindicato da categoria, entregaram ao jornalista Hélio Doyle, coordenador da transição de governo da parte de Rodrigo Rollemberg, documento em que apresentam suas reivindicações. Em síntese, todos batem na mesma tecla: que o presidente seja funcionário de carreira.
– Não podemos admitir que o BRB continue acumulando prejuízos. Os últimos presidentes vieram de fora (do Banco do Brasil, mais precisamente) em detrimento da ‘prata da casa’, afirmou Antônio Eustáquio, diretor do Sindicato dos Bancários, em conversa com os redatores do ‘NaredecomJoséSeabra’.
Para ilustrar seu temor, o dirigente classista lembra que o resultado financeiro do Banco de Brasília decresceu em 2014, em comparação ao exercício anterior. Os números referentes até ao terceiro trimestre apresentam um resultado líquido de 101 milhões de reais, o que representa uma retração de 29% se comparado ao mesmo período de 2013. “Nos preocupa saber que a rentabilidade de 2014 (até o terceiro trimestre) ficou em cerca de 12%, quando o percentual verificado em 2013 beirou os 21%”, sublinhou Eustáquio.
O que chama atenção nesses resultados – ainda sob a ótica de Antônio Eustáquio – é o aumento expressivo das despesas de intermediação financeira (crescimento de 50%), frente a um crescimento modesto das receitas de intermediação (16%). Outro aspecto diz respeito ao aumento do provisionamento para devedores duvidosos, cujo percentual está descolado do que ocorre com o mercado, tendo ficado em 3,40% ante 2,80% do ano passado. Isso representa um crescimento de 39%, o que exige explicação por parte do banco.
– Esperamos que o futuro governador observe estes resultados decrescentes, alcançados por executivos nem sempre recomendados, vindos de outras instituições financeiras. Rodrigo Rollemberg precisa entender que essa rota declinante é a afirmação categórica de como tem sido inconveniente trazer para o BRB presidentes de outros bancos. O Sindicato acredita que o Banco de Brasília tem profissionais extremamente capacitados para sua gestão, o que certamente contribuirá para melhores resultados”, sentenciou Eustáquio.
A carta encaminhada a Rollemberg é assinada pelo Sindicato dos Bancários de Brasília, Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro Norte, BRB Clube de Seguros e Assistência, Associação dos Funcionários Aposentados do BRB e Associação Atlética Banco de Brasília. O encontro foi intermediado pela deputada federal reeleita Érika Kokay, única sobrevivente do PT brasiliense a manter uma cadeira no Congresso Nacional.
Apesar de o PT ter sinalizado com uma linha de oposição a Rollemberg, a deputada costuma dizer que o mandato dela é do povo, e que ela, consequentemente, está ao lado do povo. Há quem traduza essa manifestação como pré-disposição para dialogar com o governador eleito. Até porque, se for respeitada a vontade do povo, foi esse mesmo povo que colocou Rollemberg no Buriti.
“O mandato parlamentar que a sociedade me confiou mais uma vez apoia as reivindicações das bancárias e bancários do BRB. Entendo que há quadros de carreira preparados para presidir a empresa, num momento especialmente estratégico, em que esta opção é decisiva para potencializar de modo inédito o qualificado corpo de profissionais do Banco de Brasília”, diz Érika Kokay.
Hoje o BRB tem um presidente interino, coincidentemente, um servidor de carreira, vice-presidente que assumiu o comando do Banco de Brasília quando o Conselho de Administração decidiu demitir Paulo Evangelista, há três meses, como resposta ao fiasco dos últimos resultados financeiros.
Rollemberg sabe que o BRB está nas mãos de gente experiente e respeitada. Mas o governador eleito pode muito bem indicar um substituto dentre outros vice-presidentes, até que o nome que ele tirar do colete (não necessariamente os apadrinhados por Agnelo Queiroz) seja aprovado pela Câmara Legislativa, Conselho de Administração e Banco Central. Respeitados os tramites legais, é algo para 45, quem sabe até 90 dias, a contar do fim do recesso dos deputados distritais.
Publicado originalmente em naredecomjoseseabra.com.br
*Matéria modificada às 9h07 de 13 de dezembro, para exclusão de informação equivocada