No período de 1970 a 1974, quando a censura à imprensa no Brasil era mais acentuada, o jornal O Estado de S. Paulo costumava substituir matérias censuradas por receitas de bolos e versos de Camões, em especial trechos d’Os Lusíadas.
Em maio de 1973, no episódio da demissão do ministro da Agricultura Cirne Lima, o Estadão estampou o anúncio Agora é Samba, de um programa na Rádio Eldorado – pertencente ao conglomerado noticioso da família Mesquita.
O tempo passou. Porém, 40 anos depois, a censura continua vigorando, embora com práticas mais sutis, mesmo que violentas, na tentativa de atingir empresas sob os aspectos moral e financeiro.
O jornalista José Seabra, diretor-editor de Notibras, viveu aquela época. Suas armas para combater a ditadura militar eram uma caneta esferográfica e uma velha Remington. Sua luta incansável em defesa da liberdade de expressão e de imprensa foi reconhecida no segundo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que lhe reconheceu a condição de anistiado político.
Hoje, para combater a corrupção que prolifera em diferentes esferas de Brasília, a principal arma de José Seabra é o computador. E em 1973, como em 2015, versos substituem a verdade impedida.
Eu vou contar pra todos a história de um rapaz
Que tinha há muito tempo a fama de ser mau
Seu nome era temido, sabia atirar bem
Seu gênio violento, jamais gostou de alguém
E ninguém jamais viveu pra dizer
Que o contrariou sem depois morrer
Nos duelos nem piscava, no gatilho ele era o tal
Todos que o desafiavam tinham seu final
Mas eis que numa tarde alguém apareceu
Com ele quis lutar e o mundo até tremeu
Marcaram numa esquina antes do por-do-sol
E todos já sabiam que um ia morrer
Nesse dia, porém, o homem mau tremeu
Logo entrou num bar e no bar bebeu
Ninguém tinha visto ainda ele em tal situação
Mas somente ele sabia qual era a razão
Chegando então a hora do outro encontrar
Chegando na esquina parou para olhar
O outro estava firme com a arma na mão
Fazia grande alarde fazendo sensação
O homem mau, então, quis logo matar
E no valentão quis logo atirar
E depois de um tiroteio todo mundo estremeceu
Quando um grito se ouviu, o homem mau morreu
Essa é a história de um homem mau!
Sucesso radiofônico em meados de 1965, quando Roberto Carlos preparava-se para receber a coroa de ‘Rei da Juventude’, a música volta a ser lembrada. Serve para mostrar que quem apaga mensagens trocadas pelo aplicativo Whatsapp, está sujeito às penas da lei, por mais que queira usar o poder da força, em detrimento da força do poder. E como acontece com muito bandido, o tiro sai pela culatra, ou atinge o próprio pé.
Felipe Meirelles