O velho Agostinho Carrara, hoje Homem Primitivo (peça que está encerrando temporada em São Paulo para ocupar os palcos do Rio de Janeiro), acaba de romper um silêncio de dois anos e desbancar a Globo (para a qual sempre trabalhou).
Foi durante entrevista à TV Uol, no programa “Uol Vê TV” na terça-feira, 28. Na conversa com os repórteres, o ator Pedro Cardoso fez duras críticas ao atual cenário televisivo brasileiro, à sua antiga emissora, Globo, e ao programa “Fantástico”.
Pedro definiu a TV brasileira como ultrapassada, conservadora e covarde. “O mundo mudou muito. E uma coisa principal: o Brasil mudou, muito mais que a televisão brasileira. A TV brasileira ainda está igual ao Brasil do FH [Fernando Henrique Cardoso] e nós estamos num Brasil pós-Dilma, embora ela ainda esteja [no governo]. E a gente tem que retratar este Brasil que mudou. Se a gente ficar fazendo a televisão que era da época do Fernando Henrique, o público vai fazer outra coisa”, disse.
“A televisão brasileira está com muito medo da internet. Está um pouco acovardada, um pouco conservadora. Ela está mudando só na maquiagem”, completou.
Sobre a Globo, o artista criticou a falta de créditos e confiança para com os atores. “O petróleo da comunicação social, em teledramaturgia, é o ator. É o ator que dá cara ao trabalho de todos. Isso confere ao ator um poder incomensurável. Ninguém sabe, na verdade, quem é o diretor ou o autor da ‘Grande Família’, embora eles fossem tão importantes quanto nós. A empresa, e não só a Globo, todas, o que fazem? Negam poder ao ator. Os atores ficam esperando ser convidados. A Globo não é sensível a nenhum movimento feito por um ator”, disse. “Preferem atores que já entraram no mercado tendo abdicado de antemão da sua autoria”, completou.
Pedro revelou o choque de não ter sido convidado para desenvolver outro trabalho na emissora, após o fim de “A Grande Família” – onde eternizou o personagem Agostinho Carrara. “Com a trajetória que tive na TV Globo, e com o sucesso que ‘A Grande Família’ teve, eu imaginava que a emissora me ofereceria a oportunidade de desenvolver um projeto que fosse meu. ‘A Grande Família’ era um projeto coletivo. Isso não foi oferecido a nenhum de nós”, contou.
O ator desabafou sobre o cancelamento do quadro “Uãnuêi” – onde ele e Graziella Moretto improvisavam sobre temas propostos pela plateia -, interrompido pelo “Fantástico” depois de apenas quatro episódios. “Tive uma experiência traumática no ‘Fantástico’. Fizemos um quadro de improviso, improviso verdadeiro, não esse improviso falso, que às vezes se tenta fazer. A equipe do ‘Fantástico’ não gostou. E obviamente, quando não gostam, dizem que teve dificuldade de audiência. Acho que não era crise de audiência, não. Era mesmo um problema ideológico”, afirmou.
Pedro ainda acrescentou: “A televisão no Brasil se dedicou a construir uma espécie de país que não é verdadeiro. O ‘Fantástico’ trata dos assuntos com uma falsa verdade, na minha opinião. Até quando diz que uma coisa é verdade, parece entretenimento, uma coisa bobinha, engraçadinha. Eu faço uma coisa que é engraçada mesmo, não engraçadinha. A gente mandou dez programas prontos. Na hora de escolher os primeiros, foram escolhidos os mais amenos.”