Como decidiram esperar do lado de fora dos portões de uma faculdade de Brasília até que os filhos terminassem as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), um grupo de pais trocou a leitura de jornais e livros pela conversa sobre suas vidas e piadas, o que fez as horas correrem. “Ontem tinha até juiz de futebol aqui. O tempo passou bem rápido”, conta o aposentado Jesus Gomes Pereira, tutor da única neta, Maria Carolina Gomes Barbosa, que participa do exame pela primeira vez.
Emocionado, Pereira contou a história que os novos amigos conheceram nas quatro horas e meia do primeiro dia de Enem. Ele cuida sozinho da estudante desde que nasceu, e não desgruda a atenção. “Todos os dias a levo para o colégio, a 23 quilômetros de casa, e fico esperando até o final das aulas”, disse ele, que mora em uma área rural de Sobradinho, cidade a pouco mais de 20 quilômetros de Brasília.
Mesmo morando em outro extremo do Distrito Federal, a agente de cidadania de Santa Maria, Yolanda Silva Marques, avisa que a amizade entre eles vai continuar depois deste final de semana. “Vou pegar telefones e manter o contato”, disse. Yolanda é mãe de Marcos Antônio da Silva, a quem chama de “meu bebê de 16 anos”.
Ela conta que encontrou um ponto em comum com o novo amigo Jesus Gomes Pereira, porque acompanha o filho e a irmã de 14 anos, que ficou em casa, em todos os lugares. “Mamãe gosta de trazer e levar”. Marcos Antônio quer entrar na faculdade de eletrônica ou de ciências da computação. “Ele é muito aplicado, mas acha que devia ter estudado mais”, disse aos risos.
A espera de hoje (9) foi um pouco maior porque as provas deste segundo dia do Enem podem ser concluídas em até cinco horas e 30 minutos. Um novo integrante resolveu se unir ao grupo de amigos que se conheceram a um dia, o motorista Genonciane Resende de Souza, que esperava a esposa, com o mesmo cuidado dos outros. Aos 42 anos, Maria Celeste decidiu estudar e tentar o exame. “Ela ainda não sabe o que quer, mas vai até o último minuto [das provas] e, como hoje termina mais tarde e tem menos ônibus, achei melhor esperar”, disse.
Nem todos os pais tiveram a mesma disposição. O aposentado Marcelo Constantino disse que ontem conseguiu esperar, mas como hoje o tempo de prova é de uma hora a mais decidiu ficar por perto, mas não em frente ao prédio onde o filho Marcelo Iuri, de 17 anos, faz a prova. “Ele escolheu odontologia e está fazendo a prova com calma, mas devia ter se preparado um pouco mais. Ontem eu consegui ficar aqui e dava uma volta quando o sono pegava. Hoje vou ficar passeando. São cinco horas e meia. Não dá”, disse.
Carolina Gonçalves, ABr