Léo Luz
Eu sempre fui um estudioso e amante da Teoria do Caos, mais precisamente, do Efeito Borboleta. O efeito borboleta se refere à sensibilidade das condições iniciais de um acontecimento, segundo a Teoria do Caos. Como o começo de um furacão, ou de uma doença, podem ser influenciados por eventos aparentemente insignificante.
Na descrição popular, a teoria versa que o bater de asas de uma borboleta em algum lugar pode desencadear uma sequência de fenômenos meteorológicos que provocarão um tornado do outro lado do mundo.
Sempre pensei nesse tipo de coisas. Que um sujeito que morreu atropelado à tarde poderia ter sobrevivido se tivesse tomado café na padaria, em vez de em casa. Que uma menina poderia ter sido estuprada sete horas depois se tivesse demorado mais um minuto na aula. E, claro, minha aplicação favorita do Efeito Borboleta é nos relacionamentos amorosos.
“E se”? é a frase que eu mais gosto de dizer e pensar com relação a isso. E se eu tivesse conhecido outra pessoa antes? E se ela tivesse saído de férias? E se eu tivesse engravidado a minha primeira namorada aos vinte anos? Como as coisas teriam acontecido? Pois bem, vamos aos fatos.
Há uma semana eu tinha um aniversário em Niterói, que eu não queria ir. Vamos dizer que as chances de eu ir fossem de uma em cinco. Eu fui. Lá chegando, em um momento de tédio, abri o Tinder e comecei a ver umas pessoas.
Meu Tinder estava programado para uma área com 20km de raio. Segundo uma pesquisa recente, 5% da população mundial usa o Tinder. Trazendo isso para o Brasil, aproximadamente 10 milhões de brasileiros utilizam o aplicativo. A cidade de Niterói tem 129 quilômetros quadrados. Isso daria um raio de aproximadamente 11km se a cidade fosse um círculo perfeito. Logo, com meu raio de vinte quilômetros, eu alcançava todos os usuários do Tinder de Niterói.
Como o Rio fica perto, o centro do Rio e alguns bairros da Zona Sul também foram abrangidos. Os bairros da Zona Sul do Rio tem à beira da Baía de Guanabara possuem, juntos, aproximadamente 238 mil habitantes. Então temos toda a população de Niterói (457 mil habitantes) mais os 238 dos bairros da Zona Sul mais próximos a Niterói. Isso dá um total aproximado de 695 pessoas.
Usando a proporção do Tinder, essas, mais ou menos 34 mil pessoas estão no Tinder. Homens são 60% do total de usuários do aplicativo, logo, como eu escolhi somente mulheres, eu podia ver e ser visto por algo perto de 13 mil pessoas. Logo, eu teria uma chance em treze mil de ver uma pessoa qualquer. Multiplicando por 5, que eram as chances de eu não ir a Niterói naquele dia, temos algo perto de um em 65 mil. Ou seja, segundo a minha estatística de quem não passou em matemática no vestibular, eu tinha mais ou menos uma chance em 65 mil de ver uma pessoa em específico.
Se eu passasse uma pessoa por segundo, eu demoraria aproximadamente dezoito horas para ver todo mundo. Mas eu só vi uma pessoa. Abri um aplicativo, vi a pessoa, fiquei absolutamente encantado, e fechei. A adicionei no Facebook e, por termos amigos confiáveis em comum, ela aceitou.
Saímos no último sábado e foi um dia maravilhoso. Um evento maravilhoso que tinha uma chance em 65 mil de acontecer. Mas aconteceu. E se, na hora que eu abrir o aplicativo, se o celular tivesse caído? E se eu não tivesse ido até Niterói? E se o celular tivesse tocado? E se ela não tivesse aceitado? E se ela tivesse aceitado e estivesse de mau humor quando puxei assunto, e nunca mais tivéssemos nos falado?
Eu não consigo evitar de pensar nisso. Que aquele beijo com cafuné olhando o mar tinha uma chance de 65 mil de acontecer. Que aquele carinho na barriga tinha uma chance em 65 mil de acontecer. Ah, e só pra vocês terem uma ideia, as chances de você morrer de ataque do coração é de uma em 467. As chances de você morrer queimado por fogos de artifício são de uma em 50 mil. Infelizmente as chances de eu estragar tudo são bem maiores que isso tudo…