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Sete e meio

Aipim, macaxeira, mandioca e milinho sem sabugo

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

No Rio, costumamos chamar de aipim, assim como em Porto Alegre. Já em Brasília, percebo que boa parte das pessoas parece que prefere falar mandioca, se bem que macaxeira fica ali coladinho. Mas não estou aqui para falar dessa iguaria que arrebenta a minha dieta, ainda mais se frita. É uma perdição!

E não me venham com batata frita, que até gosto, mas não chega nem perto da nossa brasileiríssima maniva, também conhecida por castelinha. Eita, Brasil grandão, onde para cada região tem pelo menos um nome diferente para esse alimento que está entranhado nas nossas raízes. Aliás, para quem não sabe, o aipim é mesmo uma raiz.

Seja qual nome você escolher, repito, não estou aqui para falar desse que, junto à carne de sol, é o meu prato favorito, ainda mais quando regado à manteiga de garrafa. Pois o assunto é outro, que há tempos conheço como sete e meio, que é uma espécie de jogo de cartas similar ao vinte e um, tão comum nos cassinos.

Também não vou aqui me preocupar em dar explicações sobre regras, pois esta é uma crônica e não um manual de jogos. Pois bem, lá estávamos a minha filha do meio e eu brincando de sete e meio, quando ela teve a ideia de trocar os feijões por notas de outro jogo, banco imobiliário. Fizemos a divisão das cédulas e começamos a jogar.

Entre uma partida e outra, dependendo das cartas em nossas mãos, apostávamos mais ou menos. É óbvio que, de vez em quando, blefávamos. E tudo acontecia com as deliciosas gargalhadas da minha menina, quando ela, audaciosa que sempre foi, deixou de baixar as notas de um, dois, cinco, dez, cinquenta, cem e até as de quinhentos e, sem qualquer aviso, lançou-me aquele olhar desafiador e tacou uma de mil na mesa. Mesa que nada! Estávamos brincando no tapete da sala.

Mas voltemos a esse momento que, definitivamente, mudou para sempre o nome desse jogo. Minha filha, ao mesmo tempo que jogou a cédula de mil no meio do tapete, me desafiou com um grito.

— Milinho?

Sem para ter onde correr, tive que encarar aquela petulância. Escolhi uma cédula novinha de mil e a depositei sobre a dela. É verdade que era nítida a minha hesitação, mas tentei não demonstrar qualquer ponta de medo.

— Milinho!

Seguiram-se segundos de angústia, até que a minha filha virou as cartas, um sete de copas e um valete de paus. Sete e meio. Quanto às minhas cartas, eu havia blefado, pois já havia estourado: duas cartas de quatro e uma de dois. Mas isso não importa, pois, a partir daquele momento, passamos a chamar o sete e meio de milinho.

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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