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Alcides era quase um rei (por suas tramoias)

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Aquilo não passava de uma reunião de indivíduos de má índole, cuja má fama corria ligeira por toda a região. Verdadeira súcia, que não perdia oportunidade para propagar discórdia e cometer crimes. Isso como se fosse natural daquele bando sem escrúpulos se apropriar do que lhe fosse alheio, inclusive da fé, tão própria de gente inocente.

Alcides, um dos líderes, sorria sem qualquer pudor aquele sorriso dos hipócritas. Sujeito bem-nascido, recebera todos os mimos dos pais e, especialmente, da avó materna, que depositara todas as fichas no herdeiro assim que bateu os olhos no então menino desprovido de madeixas na maternidade.

— Já nasceu com a expressão de rei.

Se não chegou ao posto de rei, não foi por falta de vontade, mas porque o Brasil Império ficou para trás quando do golpe de 1889. No entanto, isso não foi impedimento para que Alcides crescesse com o dito cujo na barriga, já que se achava o dono não só da cocada preta, mas da branca e de todos os quitutes de cores diversas.

Tinha gente atrevida que dizia que Alcides não passava de um desocupado. Pura inveja, pois o homem era mestre em maquinar ideias para se dar bem. Que ficasse com os desprovidos de tutano o trabalho pesada, enquanto a ele era destinada a parte mais árdua, justamente a de raciocinar. Tanto é que até mesmo os demais, que ocupavam posições de destaque, não permitiam importunações quando Alcides, alcunhado de Cérebro, usava os bilhões de neurônios em prol de novos projetos para o bem da corporação.

— Esse Alcides não passa de um golpista! Isso, sim!

— Cuidado com as palavras, delegado, que o homem é forte.

— Pois vou agora mesmo tratar com o juiz!

— Cuidado com o andor, delegado, que o santo é de barro. Ademais…

— Ademais o quê, seu pastor?

— Ademais que o juiz recebeu um carro de luxo.

— Hum! Só me faltava essa!

— Antes fosse só essa.

— Hum! E o promotor? Ele também?

— Bem, o filho foi estudar na universidade na capital.

— Hum!

— Sem contar que…

— O que mais, seu pastor?

— Sem contar que a reforma da igreja já vai começar nesta semana.

— Pois o que me falta, seu pastor?

— Não olhe agora, seu delegado, que o homem tá vindo pra cá.

Nisso, Alcides, com dois brutamontes logo atrás, se aproximou dos confabuladores. Com o costumeiro sorriso nos lábios, cumprimentou-os.

— Bom dia, seu pastor! Bom dia, seu delegado!

— Bom dia, seu Alcides! Estávamos aqui falando justamente do senhor.

— É mesmo, seu pastor? E o que falavam? Espero que só coisas boas, pois ouvi dizer que tem gente descontente comigo.

— E quem seria, seu Alcides? Certamente um ingrato! Não é mesmo, seu delegado?

— Certamente um ingrato, seu pastor! Quem é que poderia falar mal do seu Alcides, não é mesmo?

Alcides cofiou o bigode e, com um sorriso de canto de boca, pareceu esperar por mais adulações vindas da parte do delegado.

— Pois, seu Alcides, quando é que terei a honra de receber sua visita na nossa modesta delegacia? Melhor, faço questão também de recebê-lo para almoçar em minha humilde casa. A minha senhora é especialista em galinhada.

A avó materna do Alcides, nessas horas, deve estar repleta de regozijo no cemitério da cidade. Afinal, tino de avó não falha.

………………………..

Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’

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