A intervenção anunciada pelo presidente Michel Temer na segurança do Rio levou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), a eleger o tema como foco de sua campanha ao Planalto. A medida antecipou um discurso que já estava pronto para a eleição – que tentará convencer o eleitor de que o tucano é o presidenciável mais experiente na área e possui dados relevantes a mostrar.
A decisão de Temer também precipitou a produção de uma propaganda institucional do governo do Estado, que passou a ser veiculada no Sábado.
“Eu vou puxar o debate da segurança pública. Esse é o problema no Brasil do Oiapoque ao Chuí. O combate ao crime é permanente”, disse nesta segunda-feira, 5, o tucano em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, durante palestra para empresários e políticos. O governador voltou a defender a criação de uma agência de inteligência para combater o tráfico de armas e de drogas nas fronteiras.
Com este discurso, Alckmin procura disputar com Temer e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), também pré-candidato, pelo protagonismo no tema da segurança pública.
Apesar de o Estado reunir bons resultados nas estatísticas de crimes violentos – como a redução da taxa de homicídios em São Paulo à menor do País -, os números dos chamados crimes contra o patrimônio se mantêm numa taxa elevada e os salários dos policiais militares estão entre os mais baixos do País (mais informações nesta página), o que revela uma realidade menos positiva do que a que o governo procura veicular.
Desde o ano passado, o tucano carrega com ele um quadro que compara as médias paulista e nacional referentes à taxa de assassinatos. Segundo a gestão Alckmin, ambas estavam na casa de 30 casos para cada grupo de 100 mil habitantes em 2003. Hoje, pelos dados do governo, o Estado registra 7,5 homicídios para cada 100 mil pessoas, enquanto o restante do País mantém o nível de 15 anos atrás.
O entorno do governador paulista justifica a campanha na TV e no rádio como uma necessidade para “tranquilizar” a população do Estado sobre a realidade “diferente do Rio”.
A bandeira é vista ainda como uma boa estratégia para projetar o nome do governador paulista no Nordeste, onde a escalada da violência transformou Sergipe, Rio Grande do Norte e Alagoas nos Estados mais perigosos do País, com taxas de homicídios entre 55 e 64 para cada 100 mil habitantes.
Diante da crise financeira pela qual passam praticamente todos os Estados e o governo federal, Alckmin estuda ampliar o poder dado hoje aos guardas municipais, responsáveis pela segurança do patrimônio das prefeituras, como parques e escolas. De acordo com o tucano, não só o governo federal deve ampliar sua participação na definição de políticas de segurança, mas também os municípios.
Alckmin não usa o termo “polícia municipal”, mas admite, caso eleito, dar poderes de polícia aos guardas – que podem fazer prisões em flagrante mas estão impedidos de participar de ações de patrulhamento ou investigação. O tema, porém, vai exigir um debate constitucional.