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Algemas assustam Bolsonaro em pleno agosto, o mês do desgosto

A crença de que agosto é um mês ruim surgiu em tempos antigos. Alguns acreditam que essa associação negativa tem origem no calendário romano, quando agosto foi batizado em homenagem ao imperador romano César Augusto (Augustus). Quem acredita em superstição segue à risca todas as orientações religiosas, mediúnicas e sensitivas quando chega o mês do desgosto. Com base na ciência popular, nesse período surgem muitas lendas de assombrações, fantasmas, cachorros loucos e seres fantásticos de todos os tipos e tamanhos. Embora desconhecidos e normalmente imperceptíveis, esses “seres” não assustam tanto quanto os mitos inventados pela insanidade de parte da população.

Como sou cético em relação aos duendes, prefiro ter certeza de que temos de ter medo é daqueles que vivem para tirar até a última casquinha do poder ofertado pelo povo. Agosto ainda está só na metade, mas o que já vimos e ouvimos de barbaridade em relação ao desgoverno de São Jajá é de arrepiar até mesmo quem lhe confiou quatro anos de mandato na Presidência da República. A expectativa, porém, não é das piores, o que contradiz a tese que, além do desgosto, também coloca agosto como o mês mais demorado do ano pela ausência de feriados. Pelo andar da carruagem, tudo indica que, após a confusão entre o público e o privado, o ex-presidente e sua trupe enfrentarão dias e semanas bem complicados. Ou seja, agosto jamais será esquecido.

Os mais otimistas têm certeza de que o período será riquíssimo e bastante produtivo para a Polícia Federal e para o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), em especial para o xerife Xandão. As investigações avançam e atingiram uma inesperada coloração verde oliva. Quase uma Serra Pelada, o Palácio do Planalto foi amadoristicamente transformado em um bem armado balcão de compra e venda de presentes oficiais recebidos pelo governo, notadamente joias diversas e relógios garimpados das arábias. Escandalosa, absurda e muito além da realidade, a negociata com bens públicos mostra claramente para onde o Brasil se encaminhava.

Para os que já desenhavam o tamanho do buraco desde outubro de 2018, há poucas dúvidas sobre a possibilidade de o Palácio da Alvorada ser colocado no Airbnb caso o ex tivesse sido reeleito. Felizmente, da mesma forma primária com que geriu o país, o mito vem expondo tentáculos amadores muito acima do permitido pela turma da punga pé de chinelo nos vagões dos trens, metrôs ou ônibus das médias e grandes cidades brasileiras. A novidade da história é a provável quebra do sigilo bancário e fiscal do casal Bolsonaro, acusado pela Polícia Federal de receber em dinheiro vivo parte dos recursos gerados com a venda dos bens públicos.

De acordo com as informações repassadas pela PF ao xerife Xandão, em apenas dez meses o carregador de malas do então presidente chegou a movimentar atipicamente R$ 3,7 milhões. É muito grana para quem tem um salário pouco superior a R$ 25 mil. É por essa e outras razões que hoje, endossando a máxima do cantor e compositor alagoano Djavan, é mais fácil aprender japonês em Braile do que acreditar em uma das 142 versões apresentadas para esquentar o relógio Rolex, o bracelete e as demais joias das arábias. Tenho vergonha do que o Brasil e o mundo assistem de camarote. Entretanto, nada como o desgosto de um agosto para que os diabinhos que insistem em atormentar o povo realmente patriota voltem para o lugar de onde nunca deveriam ter saído: as trevas.

Caiu a máscara do governante que dormia e acordava pensando em ideologia. Atualmente, ele sonha com bens materiais, mas tem pesadelos com o sol quadrado brilhando sobre sua cabeça. Perdido e abandonado pelos pastores fiéis somente aos dízimos, nem São Judas Tadeu, o santo das causas impossíveis, atende mais as ligações do capetão. O problema é sério. Com seu entorno sob investigação, o melhor a fazer é botar os pulsos de molho. Como última tentativa de se poupar, acho que Jair Messias deveria processar Zeca Pagodinho. Afinal, foi a pedido do sambista que o chefe do clã Bolsonaro deixou que a vida o levasse. Passados quatro anos e sete meses, ele não sabe mais onde está.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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