O consumo excessivo de produtos ultraprocessados como refrigerantes, bolachas recheadas, caldos, molhos e temperos pronto, entre tantos outros, já foi tema de diversos posts deste blog. Já mostrei, por exemplo, a relação dele com a obesidade e com os distúrbios de comportamento entre as crianças. O texto de hoje vai fazer um alerta sobre uma outra doença que pode ser provocada por eles, a hipertensão.
Os industrializados costumam ser bastante consumidos pelos jovens, que tendem a se preocupar menos com a saúde. E também nessa fase da vida é possível desenvolver a hipertensão, que poderá acompanhá-los até a velhice.
De acordo com o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), no ano passado, 60% dos jovens atendidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde), no estado de São Paulo, consumiram produtos industrializados, como macarrão instantâneo, salgadinho de pacote ou biscoito salgado. Além disso, 46% desses jovens ingeriram hambúrguer e/ou embutidos; e 43% biscoitos recheados, doces ou guloseimas.
Sabemos também que estes produtos costumam ser ingeridos no lugar dos alimentos naturais, frutas, verduras e legumes, que poderiam proteger o organismo contra os males causados pelos empacotados. Boa parte deste público não está acima do peso e isso dá uma falsa noção de que este hábito alimentar não os está prejudicando.
Doenças que antes eram consideradas de adultos têm se manifestado cada vez mais cedo, como a diabetes tipo 2, a depressão, a artrite reumatóide, as alterações de colesterol e de pressão. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, quase 3 em cada 10 pessoas sofrem de pressão alta em todo o mundo e muitas podem nem saber disso, pois ela não apresenta sintomas.
Esse desconhecimento é perigoso porque esta alteração pode estar ligada ao desenvolvimento de problemas cardiovasculares ou ao acidente vascular cerebral (AVC).
Seu controle, na grande maioria dos casos, é feito apenas com remédios de uso contínuo, mas a restauração de uma alimentação equilibrada e a prática de exercícios físicos podem permitir a eficiência da medicação, diminuir as quantidades dos medicamentos e, em alguns casos, até retirá-los completamente.
Em primeiro lugar, é preciso que haja uma predisposição genética para que o sintoma da pressão alta apareça. É a genética que irá determinar qual órgão ou função serão atingidos pelos desequilíbrios do organismo.
A resistência celular à insulina está entre os seus principais agentes causadores. Ela também pode estar por trás de diversos sintomas, como obesidade, diabetes tipo 2, alteração no colesterol e no triglicérides, entre muitos outros.
Quando consumimos muitos alimentos com potencial alergênico, ou seja, com substâncias de difícil digestão, como o glúten, as proteínas do leite de vaca e da soja, o nosso organismo produz substâncias pró-inflamatórias para nos defender, que ocupam os receptores ou os pós-receptores de insulina. Como esse hormônio não consegue chegar onde deveria, o pâncreas entende que ele está em falta e aumenta a sua produção.
Esse aumento provoca, entre outras reações, a reabsorção do sódio pelos rins, o que aumenta a pressão arterial. É bom lembrar que os ultraprocessados costumam ter, em grande proporção, essas substâncias alergênicas.
Situações de estresse físico, mental ou emocional, comuns também entre os mais jovens, fazem com que o organismo aumente a produção dos hormônios do estresse, chamados catecolaminas, que por sua vez, podem causar, entre outros fatores, o aumento da pressão arterial.
Uma alimentação equilibrada pode fortalecer o organismo para que ele sofra menos interferência dos casos de estresse que não podemos controlar. Além disso, o consumo da cafeína após três horas em jejum, que pode estar no café, no chocolate, no refrigerante e nos chás escuros, provoca um processo de hiperglicemia, seguido pela hipoglicemia reativa, essas rápidas alterações da glicose também podem causar resistência à insulina.
A cafeína também inibe um neurotransmissor chamado gaba e ativa outro chamado glutamato, que é excitatório e prejudicial ao sistema nervoso central. O consumo excessivo dessas bebidas e alimentos é outro hábito nocivo praticado por muitos jovens.
O baixo consumo de frutas, verduras e legumes, que infelizmente tem sido frequente entre todas as faixas etárias de brasileiros, é mais um fator que pode colaborar com o aparecimento da hipertensão arterial. A dupla formada pelo magnésio e pelo cálcio é necessária para que o organismo faça as suas conexões neuronais e hormonais.
Os canais de comunicação são feitos de cálcio e têm o magnésio como controlador pois ele atua como uma barreira natural para esses canais, para que não haja excessos ou erros na comunicação das células. Por isso a deficiência de um deles pode provocar problemas vasculares (como arritmias cardíacas) ou musculares (como câimbras).
Dificilmente temos carência de cálcio, mas o magnésio costuma estar sempre em níveis insuficientes porque está presente nos alimentos naturais e porque é um mineral bastante exigido pelo organismo em situações estressantes, pois está entre as matérias-primas dos hormônios do estresse.
Para finalizar, vou falar mais uma vez sobre a importância de uma boa hidratação. A água exerce muitas funções de grande importância no nosso organismo. Quando estamos bem hidratados, por exemplo, garantindo uma boa circulação, para que ela consiga cumprir um de seus papéis, que é transportar os nutrientes que ingerimos para todo o corpo, antes de ser eliminada. Mas se estamos desidratados, o organismo retém a água, o que causa problemas de circulação e pode colaborar com o aumento da pressão arterial.
Além de melhorar a hidratação e o hábito alimentar, quem quiser prevenir a hipertensão deve evitar também o uso frequente de álcool e o cigarro. Pode parecer um esforço muito grande, mas ele vai te ajudar a ter uma qualidade de vida melhor no presente e no futuro.