A minha primogênita, a Ninica, todos os dias se transforma na Dra. Ana Maria Martínez para atender seus clientes. No entanto, apesar dessa pompa, ela e eu adoramos rir de situações engraçadas, principalmente as que envolvem a minha esposa, a Dona Irene, ou a minha filha do meio, que é estudante da USP. Mas a que vou contar hoje aconteceu quando fomos fazer uma visita de surpresa para o meu grande amigo Almeidinha, que possui um escritório de contabilidade aqui em Porto Alegre.
Pois bem, lá estávamos os três no trabalho do meu amigo, que até nos serviu um delicioso café gourmet. Passamos quase uma hora numa onda de recordações, com algumas piadas no meio, que provocaram várias gargalhadas. Minha filha, que geralmente é até reservada, se sentiu muito à vontade, mesmo porque ela conhece o Almeidinha desde sempre.
Assim que nos despedimos do Almeidinha, fomos em direção ao carro, que havíamos deixado no quarteirão logo abaixo. Falávamos do meu amigo e ríamos ainda das coisas engraçadas que havíamos acabado de escutar. Nisso, eu comento que o escritório dele era bem arrumado, o que, confesso, me surpreendeu. A Ninica riu cinicamente, o que me deixou com a pulga atrás da orelha. Realmente não consegui captar o que ela queria dizer com aquela cara de deboche.
– Não é possível que você não percebeu.
– Percebi o quê?
– Ah, o Almeidinha continua o mesmo de sempre.
– Como assim?
– Ele mantém as coisas arrumadinhas na mesa, mas com aquela bagunça toda atrás dele.
– Sério? Nem reparei. E o que isso significa?
– Significa que o Almeidinha quer aparentar ser organizado. Mas na verdade é um bagunceiro igualzinho a você.