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Amizade não tem distância

Almeidinha, o meu amigo colado como bicho-do-pé

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Um dos meus melhores amigos é o Almeidinha, que conheci quando eu fazia veterinária lá na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Ele, sempre com a cabeça cheia de números, fazia matemática. Aliás, a minha esposa, a famosa Dona Irene, já me falou que eu amo todos os meus amigos, menos o Almeidinha, pois com ele a relação é mesmo de paixão.

Sim, isso mesmo: paixão! Ela diz que, apesar dos constantes atritos que tenho com o Almeidinha, não consigo ficar muito tempo longe dele. Tanto é que, apesar de ele não ser o meu amigo mais antigo, com certeza é aquele que tenho mais histórias para contar. E aqui vai uma delas.

Certa vez, não mais do que alguns anos atrás, o Almeidinha me telefonou perguntando se eu poderia ajudá-lo a fazer a mudança. Eu, que na época possuía uma velha camionete de nome Manoelito, obviamente disse que sim. Como o meu amigo morava em um pequeno apartamento, não possuía muitas coisas, o que dariam, no máximo, duas viagens até a nova residência.

Então, no dia combinado, lá estávamos o Manoelito e eu prontos para essa tarefa, que prometia ser até agradável. Não que eu goste de fazer mudanças, mas imaginei que passar uma tarde ao lado do meu amigo seria muito legal. Além disso, como o Almeidinha é muito mais corpulento do que eu, com certeza a tarefa mais pesada ficaria por conta dele.

Já estávamos na segunda e derradeira viagem, quase chegando ao destino, quando o Almeidinha me solta essa: “Edu, eu quase dei um murro em um cara lá do trabalho”. Eu, que estava ao volante, não consegui deixar de virar o rosto pro lado dele e soltar um “O quê?”. Daí, seguiu-se o diálogo abaixo, que até pode ter sido um pouco diferente do que realmente aconteceu, já que a minha memória, às vezes, falha.

— Pô, o cara é muito chato! Ele vive me provocando o tempo todo.

— Almeidinha, a gente não faz mais isso!

— Não faz mais o quê?

— A gente não sai mais no tapa com as pessoas.

— Ué, e por que não?

— Porque a gente é velho.

O Almeidinha me olhou com uma cara de espanto, mesmo porque ele é até mais novo que eu. Na verdade, nem somos tão velhos assim, mas já passamos, há muito, do tempo de sair na mão com os nossos desafetos.

O meu amigo e eu, após esse dia, praticamente não nos vimos mais, apesar de sempre mantermos contato. É que, não tardou, a pandemia se instalou no país. E, pouco após a situação começar a melhorar, eu me mudei para Porto Alegre.

Apesar da distância, a amizade continua. Aliás, se eu fosse mineiro, ele seria um bicho-de-pé, que me aborrece muito, mas também me distrai da vida, muitas vezes entediante. Talvez eu seja também um bicho-de-pé pro Almeidinha. E, como conheço bem o meu amigo, ele vai reclamar muito dessa história de bicho-de-pé. Mas tudo bem, pois o problema seria se ele não reclamasse.

……….

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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