Três anos depois de tomar posse como presidente da República Federativa do Brasil e se autodenominar mito de uma turba desgovernada de fanáticos, tais como boa parte da torcida do Corinthians de Luizito Inácio, o capitão Jair Bolsonaro finalmente descobriu a razão de seus 57.796.986 votos em 2018. Embora eles pudessem representar uma corrida golpista em busca do trono vitalício, na prática foram destinados a um candidato que se dizia apto a governar um país corroído por mazelas eternas e há muito tempo esquecido por políticos que prezam apenas a si mesmos. Mesmo aqueles que preferiram outras candidaturas acreditaram que a anunciada aptidão teria algum efeito. Alguns chegaram a se imaginar diante de um nobre polímata, substantivo usado para qualificar pessoas cujo conhecimento não está restrito a uma única área.
Todos se enganaram redondamente, inclusive alguns dos que atestavam o vasto conhecimento de sua excelência. Politicamente obtuso e socialmente tosco, o cidadão eleito para ser presidente de todos falhou, continua falhando e falhará até o último dia de seu mandato. Tomara que esse seja o último. Com os olhos vidrados no poder eterno e vislumbrando exclusivamente a reeleição, Bolsonaro não contou para seus liderados, notadamente os seguidores que confundem governo com seita, mas esqueceu que administrar um país é coisa séria. De olho em outubro e preocupados com um tal sapo barbudo e com um juiz atualmente sem toga, os “marqueteiros” do Palácio do Planalto decidiram engambelar o eleitorado brasileiro com um pacote de bondades.
Além de fora de hora, as benesses dificilmente alcançarão quem realmente precisa. Obviamente que são importantes linhas de crédito e microcrédito para informais e pequenos e micros empresários, assim como sacode a economia a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a ampliação a programas habitacionais para pessoas de baixa renda. O problema são os desempregados e os que estão abaixo da linha de pobreza, ou seja, os esfomeados. Dados oficiosos revelam que um em cada dez brasileiros experimentaram a fome em 2021. São cerca de 22 milhões de pessoas sem ter o que comer, quase a população do Chile.
Além de não ter a menor ideia do que é FGTS a ser liberado, esse povo perdeu a autoestima, pois sequer consegue fazer dívida e, ainda que queira, passa longe das “bondades” criadas como tábua de salvação para o combalido e quase ex-mito. Certamente temporário, esse repentino amor “desinteressado” ao próximo talvez tenha sido descoberto tarde demais. Altruísmo não é marketing. Ele vem do berço ou de uma religiosidade honestamente adquirida. Perdão pelo sincericídio, mas os benefícios de última hora só convencem os bestificados pela antiga e raivosa retórica comunicativa do mandatário, que não tem uma política robusta para acabar com a fome.
Tentar gaseificar uma candidatura que prima pela generalização do ódio, estimula o conflito e acha que brilha mesmo no escuro é o mesmo que imaginar as árvores gritando por socorro. Sem qualquer ofensa intencional ou pessoal, esse é o exemplo mais didático de uma prosopopeia, figura de linguagem que significa atribuir característica humana a seres irracionais. Se a intenção do governo fosse realmente atender o povo brasileiro, por que lançar esse projeto somente agora, a poucos meses da eleição? Continuo tendo orgulho de ser brasileiro, mas reitero que o Brasil é um país maravilhoso e merece ser tratado melhor.
Sobre a ajuda brasileira à facção russa que invadiu a Ucrânia, alguns memes revelam que o camarada tupiniquim já enviou baldes, brochas e irmãos subservientes para pintar de branco os postes ucranianos. Esse é o preço de nosso amadorismo. Conforme outro perfeito meme, pelo visto Putin e o novo irmão latino perderam o medo dos Estados Unidos. Uma pena, mas a verdade é que, com o envelhecimento de algumas figuras como Super Homem, Homem de Ferro, Capitão Marvel, Rambo, Chuck Norris, Braddock, Hulk e He Man, entre outros, os senhores do mal perderam o respeito pela terra de Tio Sam. Se realmente perderam, é bom que voltem a ter. Padrinho Joe Biden não tira o olho do Brasil. Do periscópio instalado no principal aposento da Casa Branca ele tem conhecimento de tudo o que ocorre na Terra Brasilis. Sabe, por exemplo, que o Haiti não é aqui.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978