Gabriela Moll
Munidas de pás e adubo, as pequenas mãos preparam a terra para receber a nova muda. Enquanto uns trazem os vasos e outros os enterram, há aqueles que irrigam as espécies recém-semeadas. “As plantas são lindas e me trazem alívio, um sentimento de paz”, define Yasmin Ribeiro, de 11 anos, enquanto passeia pela horta.
Moradora do Riacho Fundo II, a aluna do 6º ano do Centro de Ensino Fundamental 2 de Brasília é uma das 340 crianças que passam pela Escola da Natureza semanalmente, no contraturno do horário escolar, para ter lições de educação ambiental.
No espaço com cerca de 5 mil metros quadrados de área verde no Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek, copas de árvore são tetos de sala de aula, com bancos de bambu e direito à brisa que sopra.
Lá, além de plantar com os colegas, a menina aprende sobre a importância de preservar os recursos hídricos, a dar a destinação correta aos resíduos e sobre a biodiversidade do Cerrado, bioma que abrange todo o Distrito Federal.
Depois das aulas, a menina conta que costuma falar com a família sobre o que é ensinado na escola, como a urgência de poupar a água. “É importante preservar senão não teremos mais quando precisarmos”, alerta Yasmin, que sonha compartilhar o amor à natureza também com animais, quando se tornar veterinária.
A necessidade de ampliar o cuidado com o meio ambiente e com o outro, como aprendeu Yasmin, é um dos preceitos trabalhados na Escola da Natureza. “Aqui, nós escutamos, falamos e executamos”, resume a professora Thais Marra, uma das cinco docentes do quadro da unidade.
De acordo com ela, as atividades vão além da prática. “Quando damos a oportunidade para que os alunos plantem, semeiem, estamos dando também a chance para eles se reconectarem com a terra”, diz a educadora.
Profissional da área há dez anos, ela destaca o caráter interdisciplinar e transversal das iniciativas que promove. “Para fazer a horta em formato de mandala, estudamos a área do terreno, aprendemos sobre a terra para fazer o plantio, depois pesquisamos sobre as ervas ali plantadas e ainda fazemos poemas sobre elas. É uma relação completa.”
Ao desembarcar do ônibus escolar para mais um dia de prática, as crianças são acolhidas pelas professoras no Espaço Cultural Saruê. Divididas em grupos de 15 alunos, as turmas são atendidas pelas docentes, com o apoio de educadores sociais voluntários.
O ambiente é formado por cinco áreas fechadas no estilo sala de aula, minhocário, composteira, colmeia de abelha jataí, hortas, sistema agroflorestal, bacia de evapotranspiração — modelo sustentável para tratar do esgoto sem gastar água — e banheiro seco (tecnologia ecológica para os dejetos). Há ainda uma estufa com espécies de árvores nativas do Cerrado e aromáticas, além de frutos como morango e fisális.
Na Casa da Coruja, funciona uma espécie de ateliê, onde as crianças aliam práticas artísticas à sustentabilidade, como na criação de instrumentos musicais com materiais reaproveitados e objetos de papel machê.
A coordenação e a diretoria ocupam a Casa da Teia. Nela ficam concentradas as cinco professoras, uma diretora, uma vice-diretora, um supervisor administrativo e um servidor no apoio administrativo.
Também aluna do 6º ano do Centro de Ensino Fundamental 2, Maria Danielly Oliveira Pereira, de 11 anos, descobriu na Escola da Natureza que a função da água vai muito além de beber e fazer comida. “Aprendi que gera energia e pode ser usada para várias outras coisas”, diz a moradora de Ceilândia.
Os pais já a incentivam a tomar banhos curtos, de 5 minutos, para poupar água. “Eu e meu irmão ainda não conseguimos pegar o hábito, tomamos de 20 minutos, mas estamos maneirando por saber da importância de preservar”, confessa.
Para integrar os estudantes ainda mais ao Cerrado, a professora da turma, Analice Dellepiane, apresentou-lhes a castanha de baru, mas conta que varia com outras espécies, como o pequi, o jatobá e o xixá. “A maioria desconhece os produtos, que são tão comuns à nossa vegetação, mas provam e gostam.”
Criada em 1996 com o objetivo de envolver a comunidade escolar da rede pública de ensino com as questões ambientais, a Escola da Natureza é o Centro de Referência em Educação Ambiental da Secretaria de Educação, vinculada à Diretoria Regional de Ensino do Plano Piloto.
A unidade atende as escolas de acordo com a necessidade prevista no plano pedagógico de cada uma. Em 2017, são alunos dos 6º e 7º anos de seis Centros de Ensino Fundamental (CEFs) de turno integral: CEF 4 Norte, CEF 4 de Brasília, CEF 2 de Brasília, CEF 1 do Lago Norte, CEF 1 do Cruzeiro e CEF Athos Bulcão, no Cruzeiro.
Na Escola da Natureza, as ações são baseadas em cinco grandes temas e suas pluralidades: Cerrado, consumo consciente, crise hídrica, energia e biodiversidade.
A diretora da unidade, Renata Potolski Lafetá, ressalta que os ensinamentos são baseados no respeito a todas as formas de vida, o agente transformador do olhar e das atitudes dos estudantes.
“É fundamental para a vida dos alunos entender como eles estão envolvidos com o meio ambiente para que eles consigam ser a transformação dentro de casa, do universo de cada um, além de se perceberem como cidadãos, seres vivos”, reforça a diretora.
A capacidade do local é de 75 estudantes por período, ou 150 por dia. Os horários de atendimento são das 8 horas ao meio-dia, no matutino, e das 14 às 18 horas, no vespertino.
A educadora destaca ainda que falta visão da sociedade como um todo sobre como a educação ambiental é poderosa na construção de uma nova consciência. “Percebemos a mudança nas atitudes, no ambiente escolar, na cidadania. Em casa, eles se tornam multiplicadores do conhecimento com a família, o que também é resultado do trabalho.”
Além das iniciativas pontuais na unidade, as servidoras da Escola da Natureza atuam em parceria com professores de outras escolas na orientação sobre práticas como poupar água e fazer o reaproveitamento de materiais. Também é cedido o espaço para capacitação de educadores por meio da Escola de Aperfeiçoamento de Professores da Educação.
Para fortalecer ainda mais as ações, eles também contam com apoiadores diversos. Em 2017, cerca de dez parceiros encabeçaram atividades na unidade de ensino.
A diretora adianta que no 8º Fórum Mundial da Água, sediado em Brasília em março de 2018, a ideia é tornar a escola um ponto de visitação pública e os alunos serem protagonistas em algumas das programações durante o evento.