Notibras

Amanhece, vão-se os pesadelos, e a vida volta a ser um sonho

Era madrugada quando escutou
um barulho que parecia ser o de
uma bomba.

Saltou da cama, foi até a janela e
com o espanto estampado nos
olhos avistou os cavalos da noite
batendo com violência no portão
de sua casa.

Pensava estar sonhando ou que
enlouquecera.

Inacreditável o que acontecia.

Fechou os olhos e tateou o
labirinto dos pensamentos.

Estava sempre por um fio,
desfiando os dias, barco à deriva
na solidão das noites.

Enclausurada, esterilizada,
amordaçada.

Onde se perderam suas outras
faces?

Nas nuvens acumuladas, nos
caules sob as águas do outono,
no estalar das asas como chicotes
ou soterradas por algum verme predador?

Temia afastar-se da noite, esse
útero profundo e escuro onde a
carne cresce e onde, ainda que cheio de agonias,
as coisas pequenas se tornam grandes.

E de onde poderia escapar.

As patas negras insistiam, Abre,
abre.

O som das pancadas a trouxe de
volta à superfície.

A fome de outros caminhos.

Daí a recuperar o seu domínio e a
coragem para mover-se foi um
passo.

Não havia tempo para hesitação.

Despertava, ou seria devorada.
Atacava ou morreria.

O peito arfava, as mãos latejavam.

Abriu o portão e com fúria
inumana, enforcou, um a um,
todos os cavalos da noite.

Urros, gritos e olhos vidrados de
terror e assombro.

Uma massa disforme e amolecida.
Luz e sombra, o claro-escuro.
Amanhece.

O cinza se apaga do céu.
Os primeiros raios de sol acertam
os olhos da manhã.

Bate o coração selvagem.

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