Pés de couve em cena
Ameaça de Lula cheira a ação de batalhão verde-oliva contra o ovo caro
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Lula subiu no palanque e, com aquela entonação de quem sabe tudo, mas não quer contar, anunciou que ia tomar medidas drásticas para baixar o preço dos alimentos a qualquer custo. “Nem que seja na marra!”, bradou, com o dedo em riste e o indefectível tom de avô zangado. O problema é que ninguém entendeu exatamente o que ele quis dizer. Sua fala foi tão dúbia, enigmática e cheia de duplo sentido quanto um manual de instruções de eletrodoméstico chinês traduzido pelo Google.
Afinal, o que significa tomar medidas para reduzir o preço da comida a qualquer custo? Vai tabelar? Confiscar? Fazer um feirão da madrugada com arroz a preço de banana – que, aliás, também está cara? Vai liberar cupons de desconto para a população no Zap? O tom ameaçador sugeria até uma intervenção militar na feira livre. “Atenção, feirantes, baixem os preços ou o batalhão da couve entrará em ação!”
É a velha questão do ovo e da galinha. Mas não qualquer questão filosófica: esta é especial, pois o ovo está custando uma fortuna, e a galinha já virou artigo de luxo. O que veio primeiro: a alta dos preços ou a inflação galopante? Difícil dizer. Mais difícil ainda é encontrar um trabalhador que, com um salário mínimo, consiga encher um carrinho de supermercado sem sair devendo três prestações e a alma.
O brasileiro, acostumado a driblar as crises com criatividade, agora precisa inovar ainda mais. O frango já foi substituído pelo ovo, que, por sua vez, está sendo substituído pelo miojo, que, a qualquer momento, será substituído pelo aroma de frango assado que sai da padaria. “Hoje a janta vai ser cheirar o corredor do mercado!”, já diz a nova piada nacional.
Enquanto isso, os ministros fazem reuniões e discussões que são tão confusas e inexplicáveis quanto a tabela nutricional de um salgadinho industrializado. De um lado, um grupo sugere subsídios. De outro, alguém propõe incentivos fiscais. No meio, um economista tenta explicar a inflação com gráficos incompreensíveis. No fim, todos saem satisfeitos, menos o cidadão comum, que continua pagando uma pequena fortuna pelo quilo do tomate.
Enquanto Lula promete resolver o problema com uma estratégia misteriosa e polissêmica, o brasileiro segue na luta diária para garantir o básico. O que nos resta? Bom humor, porque, no ritmo que vai, daqui a pouco rir será nossa única fonte de calorias acessível.
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Dora Andrade é Editora de Business de Notibras