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As gêmeas

Amélia e Amália só pararam já velhas, lá no Posto 2

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução das Redes Sociais

Maria Amélia e Maria Amália nasceram do mesmo ventre há exatos 77 anos. Apenas sete minutos davam à primeira a vantagem de ter conhecido o mundo antes. Se bem que tal espaço temporal fora bastante compensado no decorrer dos anos que se seguiram pela gêmea mais nova, que sempre foi afeita a aventuras.

Amélia, ao contrário, viveu sua vida bem próxima à realidade das mulheres de sua idade: casou, teve filhos, netos, quebrou algumas barreiras, mas não muitas. Enviuvou cedo, teve de arrumar um trabalho, coisa sempre abominada pelo falecido, que não admitia que a esposa trabalhasse fora.

Na verdade, a polpuda pensão que passou a receber do falecido, que fora alto funcionário do Banco do Brasil, era mais do que suficiente para manter o padrão de vida. Todavia, ela desejou conhecer os ares além das paredes do vasto apartamento em Copacabana.

Maria Amélia não se satisfez em apenas cuidar da prole. Jamais foi uma mãe ausente. Jamais! Ela sempre foi uma mãe dedicada, educou os três filhos praticamente sozinha. E nenhum deles poderia se queixar da falta de amor, carinho e, sejamos sinceros, algumas boas chineladas que receberam em momentos oportunos.

Teve poucos amores na vida, alguns ainda por cima platônicos, outros que se concretizaram, inclusive um que resultou em adultério. E foi justamente este que mais durou. Sete anos! E, apesar da desconfiança de alguns, jamais foi totalmente desvendado. Tanto é que, com o passar dos anos, as pessoas nem mais comentavam os constantes almoços de Adolpho e Maria Amélia.

Ele era o seu chefe numa repartição pública no Centro. “Dr. Adolpho é um homem sério, jamais iria se envolver com uma funcionária, ainda mais sua secretária. Além do mais, ele é apaixonado pela linda esposa”, diziam os contrários à tese de adultério. A etiqueta, parece, serviu de véu para encobrir qualquer desvio de comportamento.

Por sua vez, Maria Amália bem cedo caiu na vida. Não que tivesse virado meretriz ou, pior até para alguns, vedete de teatro. Ela sempre fora apaixonada pelo mar, quando, ainda menina, construía castelos de areia na praia de Copacabana.

Quando completou seus 22 anos, tomou coragem e, para desespero dos pais, zarpou à bordo do convés do veleiro Captain Krayk ao lado de Bruno, um italiano metido a fazer o que Colombo já havia feito há séculos. Ele queria porque queria descobrir um mundo novo. E nessa empreitada achou em Amália a companheira ideal.

Velejaram, velejaram, velejaram. Não encontraram nenhum mundo novo, mas redescobriram alguns lugares bastante conhecidos. E possivelmente estariam juntos até hoje, caso um trágico acidente não tivesse acometido o pobre Bruno apenas nove meses depois que desatracaram na Baía de Guanabara.

O Captain Krayk costeava o continente Africano, onde o casal já havia atracado e partido de alguns países (Nigéria, Camarões, Angola, Namíbia). Já na costa da África do Sul, o sol escaldante convidava a um mergulho no mar. O impetuoso Bruno foi o primeiro a pular nas águas quentes do oceano. Foi o primeiro. E somente ele pulou no mar, para sorte e desespero de Amália, que, quando já estava pronta para fazer companhia ao amado, viu o azul da água ser tomada por um vermelho assustador. Tubarão!

Até hoje Amália não sabe como conseguiu chegar ao primeiro porto da África do Sul. Chegou! É fato que chegou! E, quando se encontrou em terra firme, a primeira coisa que lhe veio à cabeça foi retornar para casa e pedir perdão aos pais.

Chorou. Chorou muito! E descobriu que havia uma segunda alternativa: viajaria por terra mesmo, conheceria todo o continente africano. Logo depois de fazer o que havia de ser feito, voltou para os braços da sua grande paixão: o mar.

Viajou, viajou, viajou… Conheceu toda a costa africana, mas isso era pouco para o espírito aventureiro dessa mulher. Amou vários homens, também algumas mulheres. Mas nem todo amor na sua vida teve uma conotação romântica. Teve atrações físicas, nada além de amor carnal, é verdade.

Chan, um filipino de traços e voz brutos, a encantou por certo tempo. Não mais de duas semanas, sejamos sinceros. Mas, para não faltar com a verdade, provavelmente tenha sido o amor carnal mais intenso que Maria Amália viveu durante muitos e muitos anos de alcova. Tanto que, de vez em quando, seu nome é lembrado durante certas conversas mais picantes com suas amigas, mesmo depois de vários anos.

“O Chan era a prova viva de que o que vale não é o tamanho da varinha, mas a mágica que ela faz”, costumava dizer logo antes de cair na gargalhada. Uma gargalhada espalhafatosa, mas ao mesmo tempo encantadora. Mas ela não parava por aí, pois sempre havia histórias para contar, seja a de amores de alcova, seja de paisagens deslumbrantes, seja de culturas inimagináveis até para nós nascidos num país continental e tão diverso como o Brasil.

Maria Amélia e Maria Amália, apesar de guardarem diferenças, também possuem lá suas semelhanças. Afinal, são gêmeas. Além do lindo sorriso de dentes desalinhados, gostam de esticar suas cangas diante da praia de Copacabana. E, caso você passe algum dia pelo Posto 2, é bem provável que as encontre.

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