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Americanos, enfim, jogam a toalha e deixam Afeganistão

Véspera do 4 de Julho, aniversário da independência dos Estados Unidos. E os americanos dão seu adeus ao Afeganistão. Tio Sam e de seus aliados começaram a levantar acampamento na quinta, 1, desmontando a base militar mais importante —e última ativa—usada pelo Exército norte-americano em solo afegão, encerrando efetivamente as suas principais operações militares no país, após quase 20 anos de presença.

É o primeiro passo, mas não o último. Em meio à crescente especulação de que os demais contingentes no país poderiam sair antes do previsto, até mesmo nos próximos dias, Biden garantiu que não será assim.

“Estamos exatamente na trajetória prevista”, disse o presidente. Diante da insistência da mídia em saber a data final da retirada, o líder democrata pareceu perder a paciência e sugeriu que os jornalistas estavam apenas fazendo perguntas “negativas”. Depois, acrescentou, irritado, que não pretendia responder a “mais nenhuma pergunta sobre o Afeganistão”. A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse na entrevista coletiva diária da Casa Branca que o Governo planeja a retirada final do Afeganistão para o final de agosto.

De Cabul, um alto funcionário da segurança dos EUA, citado pela Reuters, afirmou que “todos os soldados dos EUA e membros das forças da Otan deixaram a base aérea de Bagram”.

A informação também foi confirmada por um porta-voz do Ministério da Defesa afegão. “O aeroporto de Bagram foi oficialmente entregue ao Ministério da Defesa. As forças dos EUA e da coalizão se retiraram completamente da base e, de agora em diante, as forças do Exército afegão vão protegê-la e usá-la para combater o terrorismo”, escreveu o porta-voz Fawad Aman no Twitter.

Depois do anúncio, o Taleban afirmou que “saúda e apoia” a partida de todas as tropas dos EUA e da OTAN da base aérea de Bagram, um sinal de que a retirada total das forças estrangeiras do país é iminente. “Sua completa retirada abrirá o caminho para que os afegãos decidam seu futuro por si mesmos”, disse o porta-voz do Taleban, Zabihula Mujahid, à AFP.

O Exército norte-americano deixa para trás quase duas décadas de guerra, que custaram a vida de cerca de 240.000 afegãos (mais de 70.000 deles, civis), além de mais de 2.300 militares dos EUA. Como disse um diplomata ocidental em Cabul, citado pela Reuters, os Estados Unidos e seus aliados “ganharam muitas batalhas, mas, sem dúvida, perderam a guerra”.

Em Bagram, vital para as operações da União Soviética durante seus 10 anos de ocupação do Afeganistão, as tropas norte-americanas enterraram, como símbolo, um pedaço das ruínas do que restou do World Trade Center após os atentados terroristas do 11 de Setembro.

A retirada está ocorrendo em meio ao aumento na violência e das ofensivas do Taleban, apesar do início de negociações de paz em setembro entre o Governo afegão e os insurgentes na capital do Qatar, Doha. Fontes citadas pela Tolo TV indicaram que mais de 20 pessoas morreram em ataques perpetrados na noite desta quinta-feira pelo Taleban nas províncias de Badakhshan e Baghlan, localizadas no norte do país. Cerca de 30 distritos rurais caíram em suas mãos desde 1º de maio, quando os Estados Unidos começaram a fechar algumas bases e transferir outras para o Exército afegão com o objetivo de que, como Biden anunciou a princípio, todas as tropas voltassem para casa para o aniversário dos ataques da Al Qaeda que motivaram a intervenção militar.

Já o Ministério da Defesa afegão afirmou por meio de sua conta no Twitter que cerca de 130 supostos insurgentes foram mortos e cerca de 100 ficaram feridos em operações realizadas nas últimas 24 horas pelas forças de segurança.

Enquanto o momento é visto nos Estados Unidos como o fim de uma era, em que muitos soldados voltaram em caixões envoltos na bandeira norte-americana, no Afeganistão os piores presságios podem se concretizar, pois há o temor de uma guerra civil e da volta do Taleban, que governou de 1996 até a intervenção dos EUA em 2001. Biden disse nesta quinta-feira à imprensa que o Governo afegão é “capaz por si mesmo” de garantir a segurança da capital, Cabul, situada a cerca de 50 quilômetros do campo de aviação.

As instalações da base, que não abriga mais soldados dos EUA, foram usadas durante muito tempo para lançar aviões de ataque contra o Taleban e outros grupos jihadistas e se tornaram o quartel-general das tropas de Operações Especiais dos EUA neste conflito. De acordo com um oficial de defesa citado pelo The Washington Post, o general do exército Austin Scott Miller, o principal comandante dos Estados Unidos durante quase três anos, permanece em seu posto e mantém a capacidade de proteger as tropas norte-americanas enquanto a retirada dos últimos militares continua.

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