Escrever está no sangue de Edna Domenica. Ainda criança, essa paulistana de sorriso contagioso, colocava contos e poemas no papel e guardava na gaveta. Cerca de quarenta anos depois, publicou sua primeira obra. De lá para cá, não para. Sua coletânea é indescritível e imensurável.
Escrever, diz ela, é como ter um amigo invisível. Quer conhecer um pouco mais sobre Edna? Leia a entrevista a seguir:
Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritora.
Sou Edna Domenica: uma paulistana que escrevia poemas desde os 8 anos de idade e engavetava até publicar pela primeira vez aos 47 anos.
Como a escrita surgiu na sua vida?
A escrita surgiu na minha vida como uma amiga invisível: alguém com quem posso ser autêntica, confidenciar e brincar de inventar.
De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?
A inspiração para a construção dos meus textos vem da minha vivência do cotidiano, de lembranças, de reflexão crítica e de referências a obras literárias. A música popular brasileira e seus autores, assim como peças teatrais pairam também nos meus escritos.
Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?
Tive o privilégio de cursar letras na USP e de ser aluna de Antônio Cândido, Alfredo Bosi e Décio de Almeida Prado. Lecionei Português e, ao desenvolver meu método de trabalho, aprimorei estratégias de ensino de redação. O estudo do Psicodrama contribuiu para o incremento de técnicas de desbloqueio da expressão naquele processo de aprimoramento metodológico. Os princípios teóricos do Psicodrama deram-me a compreensão do lúdico como instrumento de construção do fazer cultural.
Quais são os seus livros favoritos?
Meus livros favoritos: Macunaíma (Mário de Andrade); Estrela da vida inteira (Manuel Bandeira); O Burguês Fidalgo (Molière); As mãos sujas (Sartre).
Quais são seus autores favoritos?
Dentre os autores favoritos também estão os cronistas Carlos Drummond de Andrade, Lourenço Diaféria, Millôr Fernandes e Rubem Braga. Sem esquecer os contos de Machado de Assis.
O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?
Antes de publicar pela primeira vez, era movida por inspiração e enfrentava um enorme bloqueio. Hoje a escrita é uma prática mais consciente, reflexiva e organizada.
Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?
O tema mais presente nos meus escritos é a crítica social. Acho que esse assunto me escolheu. Não sei como rejeitá-lo.
Para você, qual é o objetivo da literatura?
Penso que o objetivo da literatura é dignificar a pessoa, já que, como diz Antônio Cândido, a literatura é um direito de todos.
Você está trabalhando em algum projeto neste momento?
No presente, trabalho num projeto que deverá ser meu primeiro romance.
Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?
Empato com Eduardo Martínez ao apontar Machado de Assis como referência literária. Dentre os escritores vivos que conheço e admiro, há os poetas Antônio Gil Neto (SP) e Claudio Carvalho (RJ), e a poetisa visual Rosilene Souza (MG). Um contista a indicar é o Cassiano Silveira (SC) e um cronista é o Eduardo Martínez.
Como é ser escritor hoje em dia?
Ser escritora é uma empreitada existencial desafiadora, um papel social complexo, uma tarefa árdua, um afeto prazeroso, um ato de cidadania importante… Escrever poesia e ficção é um trabalho, frequentemente, sem retorno financeiro.
Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?
O Café Literário, a nova editoria da Notibras, é uma iniciativa com luz própria (Aché!). Parabéns e agradecimentos à equipe.
Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?
Dentre os títulos que publiquei, destaco o de poemas Cora, coração (Nova Letra) e os de prosa ficcional: A volta do contador de histórias (Nova Letra), No ano do dragão (Postmix), De que são feitas as histórias (Postmix), As Marias de San Gennaro (Insular), O Setênio (TãoLivros).
Sobre o livro publicado recentemente, “O Setênio”. TãoLivros, Palhoça, SC, 2024: uma narradora septuagenária apresenta o período de janeiro de 2016 a janeiro de 2023, à luz do contexto sociopolítico no qual sobressaem as sequelas deixadas pela extrema direita brasileira. Aquilata a fragilidade da democracia sob o viés dos critérios dos eleitores na escolha de presidentes.
O setênio nas palavras de Cláudio Carvalho – escritor e pós-doc em Estudos Culturais, doutor em Letras, graduado em História – “o que há de mais rico na presente obra é ser ela um objeto feito de cacos partidos da autora/narradora, de seus tempos e memórias, de nossos tempos e memórias comuns, da História e de nossas histórias. […] o livro causou em mim o efeito de uma leitura de um romance, a despeito da fragmentação em gêneros diversos, em que predominam o conto, a crônica, a memorabilia… Seguidos de poemas, dramaturgia, crítica literária, conversas de Facebook…
A personagem principal da trama romanesca, que é a autora/narradora, quanto mais se esconde em alusões jocosas, mais se revela. […] o caráter documental do livro virá a residir exatamente nesses trechos aparentemente descartáveis e imediatistas.” (Cláudio Carvalho).
Para adquirir o livro, fazer contato com a Livraria Desterrados pelo telefone/WhatsApp: (+55 48) 9162-9585
A autora de “O setênio” – Edna Domenica Merola – é também autora de Aquecendo a Produção na Sala de Aula (Nativa, 2001), De que são feitas as Histórias (Postmix, 2014); Diálogos da maturidade (Postmix, 2016); Relógio de Memórias (Postmix, 2017).
Poemas: Cora, Coração (Nova Letra, 2011).
Contos e crônicas: A Volta do Contador de Histórias (Nova Letra, 2011); No Ano do Dragão (Postmix, 2012); As Marias de San Gennaro (Insular, 2019).
Organizou coletâneas: Tudo poderia ser diferente – inclusive o título (Amazon, e-book, 2022) e Do corpo ao corpus (Palhoça: Rocha. 2022).
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