Aquele canto da sala estava vazio, apagado. Ficava entre a parede e o sofá. O buraco nem precisava de decorador para ser preenchido. Era perfeito para um abajur. Parecia tarefa fácil.
Na tarde de sábado fomos à caça de uma peça que combinasse com o sofá marrom e a estante em madeira clara. Colocamos tênis para a peregrinação, mas na primeira loja já encontramos o que procurávamos.
Sobraria tempo para o cinema.
Ao lado da escada rolante, estava lá o bonitão. Cúpula de tecido bege e base em porcelanato marmorizado com detalhes dourados, estilo clássico.
Foi amor ao primeiro clique da lâmpada. Compramos o que estava em exposição.
A ansiedade para ver o resultado da escolha fez dispensarmos o filme. Tomamos um café e corremos pra casa instalar o aristocrático abajur. O canto da sala finalmente ganhou vida ao conectarmos o fio na tomada.
Eu e Fernanda passamos alguns minutos contemplando a beleza da decoração. Tudo harmônico e aconchegante. Resolvemos dividir a alegria mandando fotos para as filhas que moram fora.
– Credo, pai, que brega – respondeu Júlia.
– Amiga, gostei não – comentou a enteada Bruna para a mãe.
– Gosto é gosto né? – contemporizou Thaynara, também enteada.
Olhamos um para o outro e só conseguimos rir. Devolveríamos à loja no outro dia, mas resolvemos fazer um outro teste: colocá-lo no quarto, onde me ajudaria nas leituras. Desistimos depois de duas cabeçadas na
grande cúpula.
A chance seria minha mãe gostar do modelo, afinal, segundo a Júlia, “esse abajur tem cara de vó”. Levamos à casa de Marlene, que olhou, olhou e, com a sinceridade que lhe é própria, disparou:
– É isso que vocês querem dar pra mim?
Antes de aposentarmos nossas carreiras de designers, colocamos uma planta verde no canto da sala e ficou tudo bem. O abajur está há quinze dias na OLX, mas ainda não apareceram interessados…
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