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O bafo do dragão

Amor deve entrar em cena para vencer o ódio da direita contra gays

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João Moura - Foto Rovena Rosa/ABr

Das vestimentas ao grito de guerra, do lema da 28ª Parada LGBT+ de São Paulo (SP), na manifestação da avenida aos desdobramentos de um cenário complexo e multifacetado da política brasileira. O movimento LGBT+ trouxe a provocação e a reflexão sobre interesses e direitos difusos e coletivos dos mais comezinhos aos mais profundos problemas sociais, políticos e legal, em especial, à recomendação do termo de ajustamento de conduta dos legisladores para com a sociedade. Um verdadeiro bafo do dragão, tal qual o mito da cama de Procusto – aplicado para se referir à intolerância humana e à falácia pseudocientífica que distorce os dados da realidade. Neste artigo analisaremos as perspectivas sociais e políticas do movimento LGBT+ no contexto atual, destacando avanços, retrocessos e as lutas contínuas pela garantia de direitos.

O movimento LGBT+ tem ganhado crescente visibilidade e reconhecimento global nas últimas décadas. No Brasil, assim como em muitos outros países, as pautas desse movimento passaram a ocupar um espaço significativo nas discussões sociais e políticas. Entretanto, a busca por igualdade e aceitação enfrenta desafios substanciais, resultando em um cenário complexo e multifacetado.

Socialmente, o movimento LGBT+ tem conquistado vitórias importantes. A visibilidade de questões relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero aumentou, em parte graças à mídia e às redes sociais, que amplificam vozes antes marginalizadas. A presença de personagens LGBT+ em filmes, séries e novelas ajuda a normalizar a diversidade sexual e de gênero. Além disso, iniciativas educacionais e campanhas de conscientização têm contribuído para uma maior aceitação social, embora o preconceito e a discriminação ainda sejam problemas significativos a serem enfrentados.

No âmbito político, as conquistas também são notáveis. O reconhecimento de direitos civis, como a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção por casais homoafetivos, são marcos importantes. No Brasil, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de criminalizar a homofobia e a transfobia, equiparando-as ao racismo, representa um avanço crucial na proteção legal da comunidade LGBT+. Contudo, a implementação e a efetividade dessas leis ainda enfrentam resistência e desafios, especialmente em contextos regionais e locais onde o conservadorismo é mais forte.

Por outro lado, o cenário político apresenta retrocessos preocupantes. O crescimento de movimentos conservadores e a ascensão de líderes políticos com discursos abertamente contrários aos direitos LGBT+ representam uma ameaça significativa. Políticas e retóricas que promovem a exclusão e a discriminação têm ganhado espaço, muitas vezes utilizando argumentos religiosos ou morais para justificar a negação de direitos. Esse ambiente hostil tem levado a um aumento nos casos de violência e discriminação contra pessoas LGBT+, evidenciando a necessidade de uma resposta social e institucional mais eficaz.

Em suma, as perspectivas sociais e políticas do movimento LGBT+ no Brasil e no mundo são ambivalentes. Enquanto avanços significativos foram alcançados em termos de visibilidade e direitos civis, os desafios permanecem substanciais, especialmente frente à resistência conservadora e ao aumento da violência e discriminação. O movimento LGBT+ continua a desempenhar um papel crucial na luta pela igualdade e justiça social, demandando políticas públicas eficazes e uma mudança cultural profunda para a construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

Sem distorcer os dados da realidade para que se ajustem a uma hipótese, é preciso expor as autoilusões com as quais convivemos, mas não conseguimos reconhecer. É preciso aceitar a racionalidade do tempo, nunca sua imparcialidade e moralidade; até porque, o ódio é muito mais difícil de dissimular do que o amor. Ouve-se falar de amor fingido; nunca de ódio fingido. O retrocesso e a omissão devem ser, sempre, denunciados.

*João Moura é Designer Thinker e observador da anatomia de governos e sociedade

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