Pedro Antunes
Os gritos dos fãs eram tão altos que invadiam a suíte do hotel em Santa Tereza, no Rio de Janeiro, pela sacada e desconcertavam Amy Lee, vocalista do Evanescence. Na calçada, lá embaixo, um grupo de 10 jovens, entre alguns recém-saídos da infância e outros adolescentes, fazia o que podia para ser escutado pela diva que, naquele dia, horas depois, se apresentaria no Rock in Rio de 2011. Ao mesmo tempo em que tentava responder às questões dos jornalistas posicionados em círculo ao redor dela, a cantora então de 29 anos não conseguia disfarçar o sorriso pelo carinho daquela garotada que chegava aos seus ouvidos.
“Uau, seis anos já se passaram desde aquele dia”, surpreende-se a cantora, ao telefone. Depois daquela passagem pelo Brasil, o grupo retornou ao País no ano seguinte, ainda com o disco Evanescence, o terceiro deles, de 2011, debaixo do braço. Aquela foi a última grande turnê do Evanescence até agora, quando o grupo inicia um novo giro mundial com três shows no Brasil – a apresentação em São Paulo está marcada para ocorrer em 23 de abril, no Espaço das Américas.
E Amy Lee está ansiosa para voltar a sentir aquela mesma felicidade provocada pelos fãs da banda em qualquer lugar que passe, embora ela admita que os brasileiros são especialmente calorosos nesse quesito. Depois de pisar no freio para poder dedicar mais tempo ao filho Jack, nascido em 2014, a cantora estava com saudade dos estúdios e dos palcos. No ano passado, inspirada pela maternidade, ela criou algo que chama de “disco de família”.
Ao lado do pai, John Lee, e das irmãs Carrie e Lori, ela gravou Dream Too Much, uma espécie de álbum para crianças, nos quais leva sua voz de cantora lírica para longe das guitarras pesadas. A família Lee criou versões delicadas, erguidas sobre bases de ukulele, piano e violão, de músicas como Hello Goodbye, dos Beatles, e Rubber Duckie, do programa infantil Vila Sésamo. O trabalho foi lançado com exclusividade na Amazon norte-americana, em setembro de 2016.
Amy Lee, contudo, sentia que era chegado o momento de fazer com que o Evanescence também saísse da inanição. Afinal, os mesmos seis anos que separam aquela entrevista na região central do Rio do novo papo com o jornal “O Estado de s. Paulo” também marcam a última vez que a banda lançou um trabalho inédito. Esse hiato está prestes a acabar, garante ela.
“Sim, estamos gravando novas músicas”, conta Amy Lee, sem querer, contudo, revelar muito do trabalho que dará sequência à discografia do grupo, formada por Fallen (2003), The Open Door (2006) e o já citado Evanescence. “Estamos nos sentindo muito energizados como banda de novo. E é ótimo trabalhar em um material inédito, mesmo que ainda não seja o momento de falar muito sobre ele.”
No fim do ano passado, foi lançada uma coletânea chamada Ultimate Collection Box Set, em vinil. Ainda não há previsão para a chegada do quarto disco da banda, segundo a cantora, porque as canções novas ainda estão em um estágio embrionário. “Ainda não fomos para o estúdio para gravar. Estamos em uma fase anterior, de criação. Mas, se posso dizer algo, é: estamos muito felizes e leves. Estamos nos sentindo muito bem, tudo tem sido positivo. É claro que se apresentar ao vivo é ótimo, mas poder se sentir criativo de novo é uma sensação incrível.”
Amy Lee está particularmente animada para apresentar ao seu público a atual formação da banda. Da turma que fundou o Evanescence, somente a vocalista restou. Atualmente, seguem ao lado dela Tim McCord (baixista desde 2006), Will Hunt (baterista oficializado em 2011), Troy McLawhorn (guitarrista desde 2015, embora já tocasse com o grupo em shows desde 2007) e Jen Majura (guitarrista base, que também ingressou em 2015). A presença de Jen, particularmente, anima a cantora. “Finalmente, não sou a única mulher da banda!”
Amy Lee sabe que depois de tanto tempo sem lançar músicas novas, seus fãs já não são tão jovens quanto aquele barulhento grupo que a recebia em Santa Tereza, mas comemora a passagem do tempo. “Estamos todos mais velhos, mas não penso nisso. Todas aquelas experiências foram ótimas”, ela recorda. “Mas, é claro, ficar mais velho faz com que você grite um pouco menos”, ela diz e ri.