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Analu e Hugo marcam sua união até nas trevas

Aquela floresta bem que poderia ser cenário de um filme de terror. Sim, é verdade que, durante a noite, o chirriar de alguma coruja pudesse causar calafrio na espinha até mesmo dos mais destemidos. Todavia, bastava surgir os primeiros raios solares para que todo esse medo fosse dissipado. Os cantos dos inúmeros pássaros tornavam o lugar o mais propício para uma agradável caminhada.

Pois foi justamente numa bela manhã no início da primavera, que um jovem casal decidiu matar aula e se embrenhar por trilhas que os corações apaixonados anseiam conhecer. Analu e Hugo, de uniforme e mochila nas costas, rumaram para a mata, que soprava promessas de amor nos ouvidos daqueles enamorados. Eles aceitaram o convite quase de imediato, tamanha a impulsividade dos adolescentes.

Andaram algumas dezenas de metros mata adentro. A garota, receosa de que alguém ainda pudesse vê-los, quis ir mais adiante. O rapaz, apesar de ansioso, concordou. Caminharam 500 metros ou mais, até que pararam diante de uma enorme árvore. Deixaram as mochilas junto às raízes expostas. Ainda ofegantes, muito mais pela emoção do que pela caminhada, os dois se beijaram pela primeira vez.

Analu, mais experiente, orientava o namorado, que parecia perdido diante de tanta novidade. Encostada na árvore, a garota sentia os lábios do amado quando, de repente, ouviu um som seco. Assustada, abriu os olhos e viu a expressão morta do rapaz, que tombou ao seu lado. Ela mal teve tempo de gritar, pois uma enorme mão a suspendeu pelo pescoço, enquanto a outra, com uma enorme faca, abriu seu ventre. As tripas caíram no chão. A garota deu seu último suspiro antes daquele homem gigantesco a soltar. O corpo da jovem despencou e caiu próximo ao de Hugo, quase como se continuassem a se amar.

Naquela mesma noite, as famílias dos desaparecidos, desesperadas, procuraram em cada canto. Nada de Analu, nada de Hugo. Foram até a polícia, onde o delegado, o bonachão Andrade, disse que mais cedo ou mais tarde o casalzinho iria aparecer. Com certeza estavam escondidos por conta da proibição do namoro.

No dia seguinte, as buscas continuaram. Nenhuma pista. Prosseguiram por mais um mês, até que, finalmente, Andrade resolveu levar aquele sumiço a sério. Juntou uma turma de populares e vasculhou cada centímetro da cidade. Nenhuma pista. Até que a mãe de Analu sugeriu que procurarem na floresta. Andrade, que estava com a roupa encharcada de suor, disse que iriam lá nas primeiras horas do dia seguinte.

Apesar da chuva e da vontade de adiar a busca, Andrade achou por bem acabar de uma vez por todas com aquela situação. Aos quase 30 voluntários do dia anterior, juntaram-se mais de 40, inclusive o velho Horácio, que estava acompanhado de Sansão e Dalila, sua dupla de perdigueiros quase puros.

Diante da floresta, abriu-se um enorme arco humano. As buscas começaram. As fortes chuvas do mês haviam lavado todo o sangue. Os corpos dos jovens também não foram encontrados, talvez tivessem sido enterrados ou, então, devorados por animais selvagens. Todos sabiam que ali era região de onças, sem contar os inúmeros javalis, que haviam escapado ou que foram soltos por antigos criadores.

Depois de procurarem por quase a manhã inteira, eis que os cachorros latiram. O velho Horácio sabia que eles haviam encontrado algo. Ele correu ao encalço dos seus pupilos, que, estáticos, apontavam para uma moita ao pé de uma enorme árvore. Era o caderno de Analu, como logo reconheceu sua mãe. A mulher, com o coração apertado, abriu o caderno da filha e leu uma frase escrita com uma caligrafia desconhecida: “Analu, sinto que nossos destinos estão eternamente ligados!” Era a letra de Hugo.

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