Matem essa ideia
Anistia é sinônimo de velho pacto de ossos insepultos há 61 anos

Há sessenta e um anos, o tempo engessado,
No relógio da pátria, um ponteiro parado,
Botas de chumbo riscaram a história,
E o medo plantou raízes na memória;
Quantos nomes a terra escondeu?
Lembranças apagadas, que o vento levou,
Filhos herdam ausência em retratos sem moldura,
Pais transformados em poeira nas fissuras;
Gritos abafados em porões sem luz,
Carne aberta, destino amargo e cruel,
Tiranos com mentiras em tribunais de papel,
Enquanto pessoas sofriam no quartel;
Quantos mapas rasgados ao horizonte?
Exílios escritos com sangue no asfalto quente,
Críticas viraram sussurros em garrafas ao mar,
Encontradas tempos depois, sem alguém para escutar;
Mulheres, rosas pisadas em praças vazias,
Sementes de revolta em lágrimas frias,
E ainda há os que vestem a capa da ignorância,
Bebendo o veneno da militarizada herança;
Mortos sem estrelas, vivos sem chão,
Ditadores esculpem estátuas de ilusão,
Caminham entre nós, anistiados, isentados da culpa,
Enquanto o passado sangra nas calhas da rua.
