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Carruagem colorida

Anjos misóginos atacam a mais linda criação de Deus

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo* - Foto Paulo Pinto/ABr

Badalhocas (no significado de Portugal) por natureza e, agora, brucutus por instintos nem tanto alfas, nossos deputados federais parecem caranguejos mancos: andam de ré com a maestria de uma cadela no cio. Não posso e não devo generalizar, mas daí a andar para trás parece uma questão de tempo. São perversos com aquelas que os pariram e que, eventualmente, “dormem” com eles. Com elas, cantam de galo e, se possível, prendem, descabelam e arrebentam. No entanto, são dulcíssimos com os que lhes põem cangalha e cabresto. Aí viram cordeirinhos, normalmente dispostos a atear fogo no pasto em que nasceram.

Quanto a seus eleitores mais radicais, os ufanistas do caos e que defendem aberrações do tipo criminalizar o aborto e o uso de drogas, sugiro apenas que nem pensem em transgredir as leis que entendem como legais e lógicas. Considerados estultos úteis e com consciências utópicas, lembro que, caso abortem ou puxem um baseado, o fim desses será o mesmo do eleitorado do lado de cá: a masmorra escura e fétida. Ao contrário dos puxa sacos, os familiares de seus queridinhos (ou os próprios) estarão recolhidos a clínicas refrigeradas e com massagistas à disposição para cutucar seus egos.

Pelo andar da carruagem colorida dos bastardos, a tese a ser defendida à exaustão é simples: cadeia para estupradas e para usuários de drogas e praias particulares para estupradores e narcotraficantes, alguns conhecidos financiadores dos politiqueiros. Na prática, o que está escrito no projeto de lei que torna crime o aborto é de fácil leitura: se forem estupradas, relaxem, gozem, tenham filhos e se danem, pois os representantes do povo não estão e não estarão nem aí. Nenhuma novidade, na medida em que as excelências comandadas pelo Capetão literalmente querem que o Brasil e o povo se explodam.

O termo é outro, mas, como é proibido para evangélicos e conservadores mela cuecas, melhor ficar só na metáfora. Registro, no entanto, que as manifestações contrárias às hediondas e desarranjadas aberrações propostas por meia dúzia de deputados de meia tigela não significam fugir da discussão sobre o direito à vida. Senhores bárbaros, discutam e avaliem a violência que irão produzir. O que também deve ser posto à mesa é o diálogo sem ideologia acerca da justa razão da estuprada que optar por não aceitar um filho gerado contra sua vontade.

Bajuladores patéticos do anjo do mau, os deputados que topam tudo por dinheiro são os mesmos que não conseguem diferenciar o passarinho da gaiola, tampouco a mandioca do parquinho de diversão. Por isso, antes mesmo de consultas psiquiátricas com caboclos e exus das encruzilhadas que frequentam, tiraram do arquivo morto da Casa um projeto de lei que tem tudo a ver com o defunto que carregam dependurado. Como supostamente não gostam do cheiro e do frescor femininos, lançam mão do que há de pior entre os misóginos para penalizar a mais linda criação de Deus.

E tudo em nome de Jesus, como pregam os evangélicos mais devotados da crueldade impiedosa e vil contra semelhantes. Diante dos representantes das trevas, déspotas sanguinários como Benjamin Netanyahu, Vladimir Putin e Bashar al-Assad devem requerer à Santíssima Trindade o passaporte para o paraíso, sem a necessidade de baldeações pelo purgatório. Repito a pergunta que ouvi (ou li) no fim de semana: “O Congresso que temos é o Congresso que queremos?” Antes de qualquer resposta contra ou a favor, eu esconjuro os que lá estão e os que apoiam as excelências que, caso alcancem o ralo da mundiça, provavelmente ficarão presos no cano de passar tolete.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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