Cyber-ativistas
Anonymous estão de volta para bagunçar geral
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emOs cyber-ativistas que atuam sob o codinome Anonymous voltaram das sombras em um momento em que o Brasil e os Estados Unidos vivem situações turbulentas nas ruas.
O coletivo chegou a ter presença regular na imprensa, promovendo cyber-ataques contra aqueles que acusa de injustiças.
Após anos de relativo silêncio, o grupo reemergiu em meio aos protestos em Minneapolis (EUA) após a morte de George Floyd, homem negro estrangulado por um policial branco durante uma abordagem.
O coletivo prometeu expor “muitos crimes” cometidos pela polícia de Minneapolis para o mundo.
E, na segunda-feira (01/06), uma conta no Twitter atribuída à Anonymous Brasil divulgou supostos dados pessoais do presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, além de ministros do governo, empresários e políticos bolsonaristas.
Foram publicados endereços, telefones e informações patrimoniais. Não se sabe se as informações eram verdadeiras. O Twitter apagou as postagens e baniu o perfil do grupo por violar as regras da plataforma.
Apesar da reaparição dos Anonymous, não é fácil descobrir o que é realmente obra do coletivo. Os dados publicados não diferem muito do que pode ser encontrado livremente em sites como o do Tribunal Superior Eleitoral ou no Portal da Transparência.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, pediu à Polícia Federal que investigue o vazamento. No Twitter, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse ser vítima de um movimento contra “famílias patriotas”.
“Nossos lares não estão mais seguros. Querem nos calar”, afirmou.
Quem são os Anonymous?
O grupo não tem liderança nem estrutura formal. Eles se definem como uma “legião”, dizendo ser formados por um grande número de indivíduos.
Sem um comando central, qualquer um pode reivindicar participação no coletivo.
Isso significa que membros podem ter prioridades radicalmente diferentes, e que a organização não tem uma agenda única.
De forma geral, eles são ativistas que miram aqueles que consideram usar o poder de forma negativa.
Eles agem de maneira pública, como quando atacam sites e os tiram do ar.
Seu símbolo é a máscara de Guy Fawkes, mais conhecida pela história em quadrinhos V de Vingança, na qual um revolucionário anarquista combate um governo fascista e corrupto.
O que eles fazem?
Várias formas de cyber-ataque foram atribuídas ao Anonymous no caso dos protestos pela morte de George Floyd, nos EUA.
Primeiro, o site da polícia de Minneapolis saiu do ar durante o fim de semana após supostamente sofrer um ataque do tipo DDoS (sigla em inglês para Distributed Denial of Service).
Essa é uma modalidade simples porém efetiva de cyber-ataque que inunda de dados um servidor até que ele deixe de responder. É o que ocorre, por exemplo, quando muitas pessoas entram de uma só vez em um site pequeno, tirando-o do ar.
Uma base de dados com endereços de email e senhas que seriam de membros do departamento de polícia da cidade está circulando e é atribuída a um ataque do Anonymous.
Mas não há evidências de que os servidores da polícia tenham sido hackeados.
Uma página em um site de uma pequena agência da ONU virou um memorial para George Floyd. O conteúdo do site foi substituído pela mensagem: “Rest in Power (descanse na força), George Floyd” com um logo do Anonymous.
No Twitter, posts também viralizaram mostrando centrais de rádio da polícia aparentemente tocando música e impedindo a comunicação entre os agentes.
No entanto, especialistas dizem que é improvável que isso tenha sido um ataque. Eles afirmam que a música poderia estar em algum pendrive confiscado de manifestantes por policiais – isso se os vídeos forem autênticos.
Ativistas do Anonymous também estão circulando acusações antigas contra o presidente Donald Trump retiradas de um processo que foi encerrado voluntariamente por quem acusava o mandatário.
O retorno do grupo é crível?
A morte de George Floyd levou ao que o correspondente da BBC em Nova York Nick Bryant descreveu como a mais abrangente turbulência racial e civil nos EUA desde o assassinato de Martin Luther King, em 1968.
Foi nesse contexto que uma página no Facebook alegadamente ligada ao Anonymous divulgou um vídeo sobre a morte de Floyd, na qual citava outros supostos crimes cometidos pela polícia de Minneapolis, e ameaçava agir.
A mesma página no Facebook publicou vídeos semelhantes sobre Ovnis e “planos da China para a dominação global” nas últimas semanas. Tanto nesses vídeos quanto no de Floyd uma voz distorcida eletronicamente discutia reportagens sobre os temas. Mas a página só recebeu mais atenção após a polícia de Minneapolis ter seu site derrubado.
A primeira grande operação do Anonymous a ganhar o noticiário foi contra a Igreja da Cientologia, em 2008. O grupo usou ataques DDoS para derrubar alguns sites da organização. Também foram realizados trotes telefônicos e enviadas mensagens de fax para atrapalhar as comunicações da entidade.
No ano seguinte, em meio à crise financeira global, o grupo apoiou o movimento da Primavera Árabe e atacou a empresa Sony Entertainment por sua tentativa de impedir o hackeamento de plataformas do PlayStation 3, além de apoiar os protestos Occupy Wall Street.
Eles continuaram endossando causas similares e realizaram atos contra o establishment ao redor do mundo, mas sua projeção midiática diminuiu nos últimos anos.
A imagem revolucionária e o desejo de combater entidades poderosas, porém, parecem ter apelo nas crises atuais por que passam os EUA e o Brasil.