Judite e o relógio
Ansiedade por pagode parece fazer o tempo parar
Publicado
emSexta-feira, perto das 16h, lá estava a Judite cheia de vontade de largar aquele monte de papéis, correr para casa, tomar um banho e se jogar na roda de samba. Que nada! Precisava cumprir o horário, pois bater o ponto antes seria reduzir ainda mais o parco salário.
Levantou-se, foi ao banheiro. Sentada no vaso, pegou o celular e olhou as últimas mensagens. Nenhuma do Jonas, seu quase namorado. Será que ele não teria gostado do último encontro que tiveram?
A mente de Judite não parava de conjecturar. Bem que ela havia percebido olhares invejosos ao seu redor quando Jonas se aproximou e puxou conversa. O que foi mesmo que ele disse? Nem ela se lembrava, já que logo se encantou por aquele sorriso cheio de malícia. E aquelas covinhas? Que homem!
Não dava para ficar ali por muito tempo. Judite, antes de sair do banheiro, se olhou no espelho. Deu aquela avaliada na maquiagem. Nada de exagero, apenas o rímel para realçar os olhos de tom castanho, quase mel.
Retornou para sua mesa, decidida a se concentrar no serviço. E foi o que fez. Tanto fez, que a enorme montanha de papéis ficou reduzida a duas folhas. No entanto, ao olhar para o relógio, percebeu que ele parecia parado no tempo. Será que estava sem pilha? Não! O ponteiro rodava no ritmo costumeiro.
A mulher se levantou novamente. Pensou em voltar para o banheiro, mas passou direto pela porta. Foi até a copa, onde tomou uma xícara de café. Tomou outra e mais outra, até que apareceu a Simone, colega de trabalho. As duas se olharam, como se soubessem a agonia da outra. Judite puxou conversa.
— E essa hora que nunca passa!
— Pois é, hoje a hora não tá amiga.