Consenso entre Executivo, Legislativo e sociedade é uma coisa rara. Faz algum tempo que uma proposta não é aprovada sem questionamentos, insatisfações e disputas de poder. Com alguma margem de erro para cima ou para baixo, na verdade faz tanto tempo que parece ter sido uma conquista de meados do século passado, algo como uma cirurgia de fimose nos meninos que hoje estão próximos dos 70 ou 80 anos. Eu seria um desses? Provavelmente. Acho que com certeza. E que projeto é esse? Sancionado nesta segunda-feira (13) pelo presidente Luiz Inácio, o projeto de lei abraçado pelo Brasil proíbe o uso de celulares nas escolas públicas e privadas do país.
A partir de agora, o insubstituível, mas chato equipamento, está proibido em todos os ambientes escolares, inclusive em recreios e intervalos das aulas. Embora tardia, a nova legislação vai ao encontro do sonho de pais e professores, os quais sempre tiveram por objetivo minimizar as distrações causadas pelos dispositivos móveis durante as atividades escolares. Como a tecnologia é irreversível, obviamente que ela não será afastada totalmente das escolas.
A ideia é criar protocolos para que ela, com planejamento prévio, seja utilizada exclusivamente para fins pedagógicos. Como vivemos em um mundo onde os celulares normalmente são mais importantes do que as pessoas, não há dúvida de que o jeitinho brasileiro entrará em ação. Infelizmente, pois, seja na escola, em casa, na rua ou na fazenda, o uso de celular sem equilíbrio e disciplina faz dele o maior ladrão do bem mais precioso do ser humano: o tempo.
Ainda que seja um usuário contumaz do aparelho, não tenho preocupação alguma em afirmar que o celular traz as pessoas que estão longe para perto, ao mesmo tempo em que leva as que estão próximas para bem longe. Sou de uma época em que havia a obrigação de as pessoas olharem mais nos olhos. Nessa etapa da vida o telefone ficava amarrado a um fio. O aparelho vivia preso e nós muito mais livres. Nesse período, o cérebro era a maior preciosidade do homem. Hoje, o mais importante é a rapidez com as teclas.
E não importa que a vida se resuma àquilo que se passa enquanto os tarados olham o celular. Diria a esses que há um mundo dentro do celular e uma vida fora dele. Vou além e digo que tão fácil como se perder no virtual é se esquecer do que é real. Por isso, sempre que posso desafio amigos e familiares a me provarem que os smartphones são mais gostosos e interessantes do que um relacionamento físico, do tipo tête-à-tête ou, na linguagem menos internética, na agonia da dinâmica do juntinho igual sanguessuga.
A inabalável parceria entre o celular e o ser humano lembra o sim no dia do casamento: “Até que a morte os separe”. O mais interessante é perceber que, independentemente da classe social, do ambiente e de onde esteja, a maioria dos usuários come, dorme, mija e defeca com o celular, mas raramente atende quando a gente liga. Como, em tese, alunos e professores estão afastados dos celulares a partir de hoje, sugiro aos leitores que cobrem dos amigos e principalmente da namorada, da noiva e da esposa para que mexam mais em você do que no celular. Façam isso antes que vocês comecem a respirar por aparelhos.