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Anvisa advertiu Bolsonaro sobre uso da cloroquina

O uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, não teve nem terá aval da Agência Brasileira de Vigilância Sanitária. Foi o que garantiu nesta terça, 11, o presidente da Anvisa, Barra Torres, em depoimento à CPI da Covid.

Ele negou que tenha havido pressão do governo federal para a aprovação do medicamento. Barra Torres confirmou, porém, que em uma reunião ministerial cogitou-se mudar a bula da cloroquina, mas ele advertiu que isso não poderia acontecer.

“Só quem pode modificar a bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do país [ Anvisa], mas desde que solicitado pelo detentor do registro”, acrescentou.

Para combater o vírus, Torres também defendeu uma política de vacinação, que considerou “essencial”. Para ele, mesmo com a imunização, as pessoas não devem abrir mão do uso de máscara e álcool em gel, além de respeitar o isolamento social.

Ao lembrar as vacinações da população ao longo da vida, o diretor-presidente da Anvisa disse que “discordar de vacinas não guarda uma razoabilidade histórica” e que a população deve se orientar principalmente pelo que está sendo preconizado pelos órgãos que têm linha de frente no enfrentamento da doença.

Sobre o uso da Sputnik no Brasil, Barra Torres, disse que, de 58 países listados pela Rússia como utilizadores da Sputnik V, 24 não adotavam o vacina à época da análise do pedido de uso emergencial do imunizante, em 26 de abril, pela agência brasileira. Segundo ele, dos países que aprovaram o uso do produto, com exceção de México e Argentina, nenhum outro tem órgãos sanitários nos moldes da Anvisa.

Barras Torres ressaltou que a Sputnik V foi a primeira vacina aprovada no mundo, por seu país de origem, sem a apresentação de estudos clínicos de Fase 3, última etapa necessária para o pedido de registro. Segundo ele, documentos publicitários do imunizante davam conta de que o Brasil estava entre os países na última fase de estudos quando sequer estavam sendo feitos testes no país.

Especificamente sobre a situação atual do processo para aprovação da Sputnik V, Barra Torres explicou que o pedido de autorização da vacina está parado na Anvisa, aguardando informações da União Química. Apesar das observações, ele pediu que,  caso o imunizante seja aprovado, a população não desconfie da segurança.

“Não pegamos vacina e colocamos no microscópio. A análise é feita a partir dos documentos apresentados”, disse. “O que conclamo àqueles que nos assistem é que, tão logo essa situação seja resolvida – e esperamos que seja resolvida –, não se credite a essa marca, a esse nome, a essa vacina [Sputnik V] nenhuma característica ruim”, completou.

Antonio Barra Torres justificou que a última negativa do pedido de autorização excepcional para a importação do imunizante russo se deu, entre outros pontos, ao fato de a Anvisa não ter recebido um relatório técnico capaz de comprovar que a Sputnik V atende a padrões de qualidade e que o adenovírus usado para carregar o material genético do coronavírus é capaz de se reproduzir.

Fundo Soberano Russo, responsável pela Sputnik V, enviou à Anvisa documento em que nega a presença de adenovírus replicante em amostras da vacina. Apesar disso, Barra Torres disse que o documento “afirma, mas não comprova” a alegação.

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