Foram necessários quase 60 anos para que, finalmente, o “planalto interior, centro geográfico do país, deserto”, como citou Juscelino Kubitschek no discurso de inauguração de Brasília, passasse a ter, na sua maioria, filhos da Capital Federal. O economista da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), Juçânio Umbelinio de Souza, explica que precisaram de três gerações para que isso acontecesse.
Atualmente, a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (2018) aponta que pouco mais que 1,5 milhão de residentes são naturais do Distrito Federal e eles representam 55% da população. “Eu poderia me colocar como um exemplo, nascido aqui em Brasília no mês da inauguração, eu já tenho netos”, diz.
Ao longo dessas seis décadas, o comum era ver pessoas de diferentes lugares pela cidade, com outras culturas, sotaques e identidades, como a família dos pais da professora de ensino Waldorf, Vanessa Dias Madeira. “A minha avó, por parte de mãe, é cuiabana e o meu avô, o pai da minha mãe é português. A minha avó paterna é carioca e o meu avô é paulista. Então, sempre tive uma mistura bem forte, né? E eles tiveram os seus filhos aqui em Brasília, nasceram todos aqui em Brasília, e eu também nasci aqui.”
Segunda geração de brasilienses, ela lembra que era exceção entre os amigos, que na maioria tinham pais nascidos em outros estados, mas já percebe um aumento dessa população entre as crianças que convivem com seus dois filhos, Manuela e Otto, também nascidos em Brasília.
André Luiz Madeira, pai de Vanessa, conta que os pais se conheceram já em Brasília e que todos chegaram na cidade por causa do trabalho na construção da nova capital “Era o grande acontecimento da época e muito carente de mão de obra, aí todo mundo veio para cá.”
E foi pela força de trabalho que tantos outros chegaram, mas não foi apenas o trabalho que fez com que ficassem, segundo Juçânio. “A perspectiva era de que finalizada essa etapa de construção da Brasília central, esses trabalhadores retornassem para os seus estados de origem, o que realmente não aconteceu. Acho que Brasília tem um poder de atração muito grande e os trabalhadores se encantaram com a região central, o céu azul, conhecido como o céu de brigadeiro. Realmente, Brasília encanta”, conclui.