Que o mercado imobiliário vive o boom dos compactos, principalmente nos bairros mais valorizados de São Paulo, isso ninguém discute. Entretanto, raros são os projetos de interiores, pensados especificamente para tais imóveis, que fogem do lugar comum, fazendo coincidir, na mesmíssima proporção, praticidade e fluidez; design e estética.
Com uma área de 32 m², este estúdio, projetado pelo Studio Arthur Casas, na Vila Olímpia, é um desses raros casos. Em grande parte, por lançar mão de uma marcenaria inteligente, que preza pela multifuncionalidade e pela continuidade de suas linhas.
A cômoda, por exemplo, nasce na cozinha. Atravessa toda a extensão da sala até alcançar o dormitório único, onde se transforma tanto em armário quanto em bancada para o home office. A estante de madeira e de metal, outra peça de destaque no projeto, assume, além de sua clássica função de expositor para armazenar livros e objetos pessoais, o papel de divisória. Separa o dormitório da área de convivência e tem fôlego, ainda, para servir de encosto do sofá.
“Seja quais forem as dimensões do imóvel, ao projetar interiores, meu primeiro exercício é o de imaginar como seria minha vida ali dentro. Em um apartamento como esse, com pouco mais de 30 m², claro que isso se tornou um desafio estimulante. Como num quebra-cabeças, fomos criando espaços multifuncionais e com grande capacidade de armazenamento”, explica Casas. De fato, espalhados por todos os lugares, os muitos armários disponíveis revelam surpresas. O da entrada, por exemplo, abriga em seu interior uma inesperada máquina de lavar roupas, além de todos os produtos de limpeza.
Decerto que o edifício, que também leva a assinatura do arquiteto, exerceu papel fundamental na questão da amplitude que emana de cada um de seus estúdios. Mesmo com 16 andares e 88 unidades, sua fachada vai na contramão das construções voltadas aos apartamentos de metragens reduzidas, normalmente repletos de sacadas e de janelas.
As varandas, por exemplo, foram eliminadas e substituídas por imensas paredes de vidro. Como resultado, os ambientes recebem grande incidência de luz natural, além de parecerem maiores. “Visto do lado de fora, é possível identificar cada uma das unidades, dizer se eu moro neste ou naquele apartamento. Nasce assim uma sensação de pertinência. Um conceito agradável e quase raro num apartamento voltado para locação e, muitas vezes, a curtas permanências”, explica o arquiteto e diretor de projetos Gabriel Ranieri.
Em tais estruturas, semelhantes a cubos de vidro, o skyline da cidade passa a funcionar como um elemento participante da decoração. Especialmente quando em confronto com a iluminação indireta, estrategicamente concentrada em poucos pontos do forro.
Se, de fato, a chave do sucesso para se viver bem em pequenos espaços seja ser uma pessoa organizada, projetos inteligentes, como esse, só podem facilitar a tarefa.