O aplauso é uma antiga manifestação coletiva. Ao longo dos séculos, desde que os gregos inventaram o bater palmas nas arenas, o aplauso simboliza a aprovação – de espetáculos, de discursos, de atos reconhecidos pela plateia – manifestada pela maioria. Só um detalhe ficou para trás.
Na antiga Grécia, quando o público aplaudia, era um incentivo para que os gladiadores fossem até a morte batendo suas cabeças. Assim era e pode ser que o aplauso esteja a caminho de resgatar sua verdadeira origem.
Em Brasília, um cidadão diante do corpo estendido na rua do sobrinho morto a tiros por um assaltante, há cerca de um mês, orquestrou um aplauso aos órgãos de segurança e ao governador Agnelo Queiroz. As pessoas presentes seguiram o tio indignado. Ali ficou estabelecido o mais simples e significativo gesto de desaprovação coletiva.
O tio justificadamente revoltado inaugurou aquilo que poderá ser o mais emblemático gesto político das próximas eleições. Prova disso é que recentemente um grupo que estava na calçada por onde passava Agnelo, orquestrou novamente um longo aplauso.
O governador sorriu e voltou para cumprimentar o grupo, imaginando que o aplauso dirigido a ele fosse o mesmo dos grandes espetáculos. Mas não era. O grupo reproduziu o aplauso grego, o mesmo de dias antes inaugurado pelo tio do rapaz assassinado.
Um daqueles que aplaudiram esclareceu: “Estamos aplaudindo o seu péssimo governo, Agnelo, o pior da história!”.
As imagens dos dois episódios percorrem as redes sociais. Uma vez consolidado, o aplauso de grego que agora recebe Agnelo Queiroz vai poupar seus adversários políticos de estratégias elaboradas nas próximas eleições.
Não há fake que substitua o gesto espontâneo anti-Agnelo Queiroz. É o efeito chiclete. Se o setor de Comunicação do Governo foi inoperante durante tanto tempo, agora não há antídoto publicitário capaz de reverter o conceito coletivo representado pelo aplauso de grego.
As próximas cenas estão por vir. Cada vez mais a população vai incentivar o bate cabeças no GDF. E aplaudir. Entre seus pares, há motivação suficiente para que desapareçam do palco quando Agnelo estiver presente. Entre seus aliados, o aplauso arrepia, causa profundo desconforto.
Como vão enfrentar os eleitores dispostos a um ruidoso bater de palmas para os políticos da situação e seus seguidores? Haverá um cenário eleitoral no mínimo curioso em 2014. E nada poderia ser mais grave para os publicitários de plantão no Buriti, do que ter que achar uma saída antes que as cabeçadas levem definitivamente à morte política do atual governo.
Estádio arena, unidades de saúde, viadutos, vias expressas, ônibus novos, obras complexas, nada será suficiente para enfrentar o aplauso grego. Um gesto que foi edificado pelo próprio governo ao longo dos últimos três anos.
As mensagens televisivas agora dizem que Agnelo não contava nada sobre suas realizações porque ele estava trabalhando. Demorou. O aplauso de grego resume como os eleitores reconhecem suas obras: não reconhecem.
O casamento com os partidos da base entra em crise e poderá ser que o altar em 2014 receba noivos nunca imaginados. Até que a morte os separe. Sob aplausos.
Max de Quental