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Apoiador da mentira nega o que funciona no Brasil

Leitor diário de dois ou três sites de notícias e de pelo menos dois jornais impressos, sou fã de uma das mais honestas editorias de qualquer veículo de comunicação: a de Opinião. Dentro dela, destaco a seção Cartas dos Leitores, na qual ora me pauto, ora me aculturo, ora recebo informações interessantes, ora me deparo com indagações dignas de citações em publicações sérias e questionadora. Esta semana, mais precisamente no domingo li em um matutino local uma carta assinada por Iran Barros Nunes, cuja origem desconheço, mas tenho certeza tratar-se de um contribuinte correto e, mais importante, um eleitor consciente.

Em forma de desabafo, Iran faz uma cobrança que eu também gostaria de fazer: “Em vez de mandar o Exército para o TSE investigar o que não existe, por que o governo não manda o Batalhão de Engenharia, do mesmo Exército, para ajudar na reconstrução de Petrópolis?” Obviamente que ele se refere às dúvidas da seita bolsonarista sobre as invioláveis urnas eletrônicas. Tudo bem que hajam questionamentos. Entretanto, parte das Forças Armadas, estimuladas pelo filho Zero Dois, se prestam a participar dessa campanha sórdida e delituosa contra uma das maiores ideais da tecnologia nacional.

Curioso é que, conforme dados duvidosos de fanáticos seguidores do bolsonarismo, parece que Exército, Marinha e Aeronáutica criaram o comando de Defesa Cibernética (ComDCiber), envolvendo militares “com profundo conhecimento” de Tecnologia da Informação (TI), especificamente para monitorar as urnas brasileiras. Não conheço o funcionamento desse órgão e não duvido da capacidade de seus integrantes, a maioria formada em centros tecnológicos do porte do Instituto Militar de Engenharia (IME) e Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de onde também saíram muitos dos técnicos que participaram – e participam – da criação e desenvolvimento do sistema eletrônico de votação. São os famosos “ninjas” do TSE.

Minha dúvida é muito simplória e, naturalmente, não interessa aos apoiadores da mentira. Será que esses militares, profundos conhecedores de TI, ignoram que, após iniciada a votação, não há mais hipótese de participação humana no processo? A manipulação na máquina somente volta a ocorrer depois do encerramento do escrutínio, mesmo assim na presença de mesários e fiscais de partidos. Será que eles também desconhecem a ausência de rede, o que impede o manuseio do equipamento por qualquer pessoa estranha aos quadros da Justiça Eleitoral? Tenho certeza de que não, do mesmo modo que afirmo que, parte da fábula bozolítica, esse tipo de informação não é do interesse dos trapaceiros, dos defensores de fraudes eleitorais.

Como inviolabilidade é um termo de difícil compreensão para os desentendidos, preferível manter a lorota da profanação da urna. É mais fácil exercitar o discurso pendular e entreter a turma do quanto pior melhor. Ainda sobre os militares, vale registrar que o TSE enviou recentemente um documento com uma série de anexos com respostas a questionamentos das Forças Armadas relativamente ao sistema eletrônico de votação. Dentre os assuntos abordados estão a lista de elementos utilizados, a formatação do processo de verificação de segurança dos softwares, a quantidade de urnas a serem utilizadas, bem como os responsáveis pelas estruturas de tecnologia da informação do tribunal e suas políticas de gestão de riscos, segurança da informação, antivírus, auditoria, registro de logs, backup, gestão de vulnerabilidades, privacidade e senha.

Inicialmente sigiloso, o amplo material colocado à disposição do presidente da maldade só foi divulgado depois do vazamento da existência de perguntas formuladas pelo tal centro de Defesa Cibernética. Quem vazou? Quem? Quem? Ele mesmo, o vazador-mor, aquele que foi sem nunca ter sido. Quanto ao teor e a importância das explicações, isso os fanáticos não mostram. Entendo porque escondem o que funciona no Brasil. Se mostrarem, tudo desandará de vez no cercadinho do capitão, que insiste em não aceitar a verdade chinesa, cujo significado é a verdade absoluta, límpida e clara como a carta de Iran Barros Nunes. E, a bem da necessidade de mudanças já, não há pacote de bondades capaz de fazer Jair Bolsonaro recuperar o status de mito. Nem de barro.

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