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Após incêndios, cidade da Califórnia tem só 2 casas em pé

Foto: AP Photo/John Locher

Alan Crabtree chutou pedaços de sucata de metal espalhados pelo local onde era a fundação de sua casa em Keswick. A sua residência foi uma das mais de mil destruídas pelos incêndios na Califórnia.

Sob os destroços, encontrou o que procurava, em meio a uma camada de cinzas de dez centímetros. “Aqui está a coisinha de desligar a água”, disse, pegando um bastão de metal bifurcado e se dirigindo à encanação principal.

Durante a madrugada da terça-feira 7, o fornecimento de água havia sido restaurado na minúscula comunidade de Keswick, e a água agora escorria pelo lugar. Ajoelhando-se, Crabtree abriu a tampa principal de concreto, encontrou o controle e o fechou, enquanto seus cães, Bubba e Koda, lambiam a água perto de uma mangueira na frente da casa.

A tranquilidade da antiga cidade de 451 habitantes foi arrasada. Agora, o zumbido de motosserras enche o ar, conforme as equipes do serviço público removem árvores com risco de cair e começam a reparar as linhas de abastecimento. Funcionários controlavam o trânsito e policiais patrulhavam as ruas, enquanto moradores retornavam à área outrora cheia de pinheiros, carvalhos e arbustos.

Todas as casas de Keswick foram incendiadas, com exceção de duas. O fogo chegou no dia 26 de julho, quando as chamas alcançaram o leste da Área de Recreação Nacional de Whiskeytown.

O fogo, que estava 48% contido e já tinha destruído mais de 177 mil hectares, chegou à cidade e atingiu as comunidades rurais vizinhas, antes de pular o rio Sacramento e destruir vizinhanças residenciais que muitos pensavam ser intocáveis por um incêndio florestal.

Enquanto os moradores de Keswick voltam para suas casas destruídas, muitas pessoas em todo o Estado se perguntam se suas casas serão as próximas. O incêndio na cidade foi um dos mais de 10 em toda a Califórnia.

As causas de alguns dos incêndios continuam sob investigação. Na madrugada de terça-feira, um homem de 51 anos foi preso, acusado de iniciar as chamas no sul do Estado, obrigando mais de 20 mil pessoas a deixarem suas casas.

Como Cabtree, muitos fugiram apenas com o que puderam colocar em seus carros. Ele, um engenheiro aposentado, tinha planos para sair de casa no dia 26. Quando os bombeiros chegaram e lhe disseram para se preparar e sair, ele apenas colocou algumas caixas a mais em seu trailer. “Quando peguei as coisas, eu sinceramente acreditava que voltaria para minha casa. Peguei tantas armas quanto pude, algumas colchas da minha bisavó, algumas fotos, os dois cachorros, comida de cachorro, e saí.”

Mas quando voltou, ele teve que procurar, nos dois acres de sua propriedade, qualquer objeto que pudesse ser salvo. “Não fiquei em choque porque tinha visto as fotos, mas tinha coisas que estavam derretidas, e minha casa de dois andares não passava de cinzas”, disse, em meio aos destroços. “A maioria das coisas não significava muito, mas perdi uma foto do meu bisavô e isso me deixa triste.”

Por enquanto, ele está em seu trailer, estacionado no quintal de um amigo com um cercado para os cães. Crabtree volta para casa todos os dias, desde que as autoridades abriram a área para os moradores novamente. A ajuda de amigos e vizinhos tem sido essencial para os moradores, já que muitos perderam quase tudo o que tinham, e o apoio vem de diversas maneiras.

Na terça-feira, amigos ajudaram Crabtree a recuperar seu cofre de armas e carregá-lo em seu veículo. No dia seguinte, ele mostrou ao amigo de longa data, Dick Smith, o que tinha restado dentro do cofre. Crabtree tirou o escopo e barris de vários rifles cujas coronhas haviam queimado, dois sacos de moedas de prata e moedas comemorativas. Ele também mostrou a Smith uma pilha de papel-moeda que tinha impressões fracas da moeda americana.

“Este incêndio foi diferente”, disse Smith, cuja casa foi salva. Equipes de bombeiros usavam sua garagem como área de montagem. “A intensidade e os danos são indescritíveis.”

No começo da semana, Crabtree estava visitando lojas, tentando criar um catálogo em seu celular. “Estive na Macy’s, no Sportsman’s Warehouse, na Petco e na Ace Hardware, e nem me lembro em quais outras lojas, tentando lembrar o que eu tinha”, disse. A questão que o incomoda é quando começar a limpeza.

O diretor de obras públicas do condado, Pat Minturn, disse que os moradores serão solicitados a receber o serviço de reciclagem para limpar sua parcela de sujeira, acrescentando que os trabalhos começarão no outono e devem durar quase cinco meses.

Não importa o tempo que levar, Crabtree disse que planeja voltar para sua casa, onde mora há 40 anos. “Eu amo morar aqui. Está no meu sangue.”

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