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Por meio focinho

Apostador contumaz fica sem um tostão ao jogar em cavalo paraguaio

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Autor/Imagem:
Cadu Matos - Foto Produção Francisco Filipino

Carlos Gardel cantou: “Por uma cabeza de un noble potrillo…”. Meu caso foi pior. Não foi uma cabeça de um nobre potro, foi meio focinho de um matungo fio de uma égua. Frase que foi concebida como ofensa, mas que é a pura verdade.

O personagem do tango de Gardel não tinha nome, eu tenho. Chamo-me Agenor, sou funcionário público e gosto de apostar nos burros. Gosto não, tenho fissura em.

Semana passada, eu estava no Jockey, quando vi um papel com uma aposta cair do bolso de um cara. Peguei-a, não era muita grana e, supersticioso como todo viciado em corrida de cavalos, achei que era uma mensagem dos deuses e fiz a mesma aposta. Ganhei 200 reais.

Só que as divindades, de pura sacanagem, estavam dando o primeiro milho pros pintos.

Cheio de adrenalina, a mil por hora, joguei todo o meu dinheiro num azarão. Não tinha um porte elegante, estava mais pra matungo do que pra puro-sangue, mas eu havia recebido informações de cocheira de que ele voava na pista de areia molhada. De qualquer modo, os deuses estavam comigo. Estavam sim, a meu lado, morrendo de rir do otário que escreve estas maltraçadas.

A corrida começou, o matungo disparou na pista e terminou lado a lado com um lindo potro, talvez parente do de Gardel. E, como aconteceu no tango, perdeu. Por meia cabeça, não uma.

Fiquei sem um tostão furado. Só não perdi as calças porque saí correndo quando vieram arrancar. Voltei a pé para casa. Agora, estou em uma merda de dar gosto, sem dinheiro para comer, para o aluguel, para a mais ínfima aposta. O pior é que sei que, na próxima semana, se conseguir alguma grana e receber uma dica quente – aliás, pode ser morna, qualquer coisa serve – jogo tudo nas patas de algum cavalo. É assim que eu sou, fazer o quê?

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