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Apostas em Trump vão do riso ao choro. Faça a sua

Luis Carlos Alcoforado

A vitória de Donald Trump se assenta em várias causas e se descortina para gerar complexas consequências nos planos interno e externo.

O complexo – mas tradicional sistema eleitoral americano -, comporta o surgimento de candidatura desafiante e a vitória de um candidato com as características de Trump.

O povo vota, mas não escolhe, diretamente, o seu principal mandatário, competência reservada ao colégio eleitoral, resultante de representantes dos estados americanos, segundo a proporcionalidade da representação de cada um.

Trump brigou e resistiu à luta interna que travou contra as próprias lideranças republicanas.

Ali começara a se desenhar o estilo Trump de enfrentar as adversidades.

Para o mundo, Trump parecia um americano ridículo no exibicionismo de suas conquistas materiais e deplorável em relação aos valores que dignificam o ser humano.

Pareceria não ser humano nem político, mas um arquétipo, que quer se confundir com um demiurgo.

Trump é um exímio jogador e milita no mundo das jogatinas, dos cassinos, das bolhas cheias ou vazias do setor imobiliário ou de Wall Street, escolas onde se aprende a ganhar ou a perder.

Assim, ler e compreender o jogo político são um exercício facilitado pelas simetrias das experiências.

Jogo é jogo, política é jogo, sabe muito bem Trump.

Ocorre que poucos como Trump conhecem a alma americana e o segredo do funcionamento das instituições de seu país.

Fez fortuna com o domínio de quem sabe explorar as facilidades de uma sociedade e de uma economia que se entusiasmam com o sucesso, claro que mais material do que espiritual.

Os americanos continuam a acreditar que o dinheiro traz a felicidade.

E Trump, desde os primeiros ensaios empresariais, já conhecia e pôs em prática o axioma.

Abusou das franquezas em questões que chocavam a dogmática liberal, para se associar ao pensamento da múltipla e complexa sociedade conservadora americana.

Talvez ninguém tenha sido tão franco em temas espinhosos, de cujo debate aberto e franco fogem os políticos.

Ele não fugiu, embora com as técnicas de maquiagens dos políticos.

Foi ousado e corajoso ao enfrentar o engajamento da grande mídia americana contra a sua candidatura e suas ideias, polêmicas e, muitas vezes, cômicas ou trágicas.

Mas não mudou a rota e, mesmo em terra, exibia seu avião, ostentação explícita de poder e riqueza.

Tudo a ver para cativar o eleitor americano, que cultua o sucesso como valor intrínseco à sociedade capitalista, de cujas regras justas ou injustas não abre mão.

Abusou de impropriedades ao discorrer sobre os problemas americanos, bem como ao ministrar soluções fantasiosas ou inexequíveis.

Nada serviu para demover o eleitorado da escolha de Trump.

Parecia que a história americana tinha encontro com o erro.

Aliás, no momento histórico a solução que se pôs foi errar com Trump ou errar com Clinton!
O povo preferiu errar com o que se parecia mais com ele.

Hillary, com estilo professoral, cresceu à sombra da engrenagem do partido Democrata, sob os tempos de virtuosismo e de ostracismo de Bill Clinton, seu infiel parceiro, exceto nos negócios bilionários da fundação da família.

Hillary esbanjava a arrogância de uma vitoriosa, antes do veredito final, sob a confiança de que enfrentava um candidato fácil de ser batido.

No plano internacional, Trump parecia ser aliado incondicional de Putin, com críticas e deboches à fraqueza da política externa de Obama.

Enxergava nos acordos internacionais celebrados na era Obama fraqueza e descompromisso com os interesses do povo americano.

Difícil será percorrer o itinerário das relações internacionais para dialogar com uma comunidade que vê com desconfiança excessiva a visão de mundo de Trump.

Mas agora é tarde para lágrimas e lástima, porque Trump, vitorioso, deixou de ser uma toupeira para se tornar no homem mais importante do mundo, civilizado ou incivilizado.

Ame-o ou odeie-o, Trump tem a força, a força singular própria do presidente da nação mais poderosa da terra, do mar e do ar.

Façam suas apostas, senhores, em dias melhores ou piores!

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